Poderia começar este escrito de diversas formas no
tempo do presente indicativo onde escrevo deixando suspense, e nem mesmo eu sei
o que vai acontecer no final. Contudo, decidi definir este escrito no tempo verbal
mantendo coerência na historia.
Poi, vou utilizar o pretérito imperfeito,
tudo começa no passado, mas no momento essa narração ainda não terminou.
Antes de qualquer coisa devo
perguntar: quem realmente somos neste mundo? Falar meu nome não é algo
relevante, devo apenas perceber o tempo e o espaço. Mas, como perceber nosso
pano de fundo diante da vida?
Curioso, a vida não é diferente da arte, tudo se
mistura. Toda arte é uma representação da vida de alguém, às vezes escrevemos
nossas historias e nem damos conta deste escrito. Eu escrevo num papel para
poder saber onde estou. Entretanto, a maioria das pessoas têm histórias orais,
sem registro grafado.
Devo mencionar que minhas lembranças não são boas, é
que deixei pessoas para trás e isto me incomodou a vida. Em meus estudos em psicanálise aprendi que cada um de nos tem uma historia verdadeira. Cada verdade é defendida de
diversas formas, somos sujeitos únicos com construções sociais e experiências diversas. É que somos
registros dos outros, este outro ajuda a construir nossa identidade, nosso
preconceito, e até mesmo a reforçar nossa verdade. Em meus aprendizados percebi
que na vida atual não temos amigos, e sim cúmplices.
A vida contemporânea exige que sejamos cheios de
posses, ter nome e profissão para definir quem de fato você é. Minha pergunta
foi quem realmente somos neste mundo? Faço essa pergunta todos os dias, é
que atendi os anseios de todos, me formei sou especialista. Aliais hoje todo
mundo ou é especialista ou doutor, eu nunca quis ser nada disto, meu pai exigia
que eu fosse alguém. O que é ser alguém? Perguntava-me também sobre isto, eu só
queria ser eu, olhar o mundo de fora, mas minha mãe não deixou é que as minhas escolhas na época era ser Frade Franciscano e Enclausurado. De quem eu fugia
nesta escolha de vida? De ninguém, eu só queria me encontrar com Deus, comigo
mesmo.
Então floresceria em meio ao deslocamento, e neste
caminhar conheci uma moça muito bonita e logo me apaixonei, casamos com 2 anos
de relacionamento em meio a muitos protestos. Um deles foi a Senhora sua mãe,
ela nunca gostou de mim, penso que porque era pobre, ela muito rica! Meu pai
dizia-me pense, pois decisão deste tipo é não tem volta. Mas, eu a amava muito,
nossa, ainda hoje é uma mulher linda. Será que eu ainda gosto dela? Acho que não é que ficou algo a
ser explicado, não falamos tudo, é isso que eu penso!
Esse relacionamento durou pouco 2 anos apenas, conquanto o pouco nós
trouxe até aqui, tivemos um filho lindo, a criança era tão linda que chamava a
atenção de todos, meus pais a adoravam. Eu era todo orgulhoso por ter um filho
lindo, todos falavam que ele era minha cara!
Os avós não se davam bem, era cada
um em seu lugar, um era metido a rico o outro era pobre. A vida caminhava e com
exatamente dois anos houve um corte conjugal que não vale nem apena contar. Tentei
conversar mais a partida era inevitável, deixei essa criança com um ano de
idade. Aos seis anos não pude mais vê-la, ai vem à dor! Minha mãe e meus irmãos
ficaram bravos, eu só dizia um dia à vida vai dar uma volta de trezentos e sessenta
graus! Essa criança nunca sai da minha cabeça, guardava as únicas fotos dele
como se guardasse uma barra de ouro.
Fleches
vem em minha cabeça, um dia de natal comprará uma moto, ai Papai Noel foi deixar,
todos queriam acordá-lo, não deixei, foi meu erro1 E quando lembro fico com o
coração apertado, dói!
No outro dia fui deixa-lo em casa, para minha
surpresa ele agarrou-se em minhas pernas e disse: “eu não quero fica aqui!” foi
uma barra para tirá-lo de mim, a mãe falou, “vá embora daqui e não volte mais!”
O que eu teria feito? Não sei, e até hoje não fiz nada, quem sou eu?
Bauman (2014) citando Woody Allen escreve: “Eu não
quero a imortalidade por minha obra, eu quero alcançar a imortalidade não
morrendo”. O autor explica ainda que o não morrer não é uma escolha de ser
imortal, mas uma despreocupação da eterna duração do Carpe diem. Ou seja,
esperar eu devia, pois tinha certeza que eu era imortal na vida dessa criança.
Hoje em pleno século XXI ao invés de aparecer à
criança, aparece o homem, cara que rapaz bonito, era ele mesmo? Sim, o contato
foi inevitável, foi maravilhoso conversar, conhecer, perceber suas emoções e
seus medos. Ele tem o meu sobrenome (Rêgo Barros), mas, ter meu sobre nome não
quer dizer nada...
Este era meu filho, nunca precisei de DNA para saber
se realmente era meu. É minha cara, até a barba é igual e continua lindo! E acho
que a criança de 6 anos ainda vive dentro dele, eu preciso vê-lo antes de
morrer, te agradeço Deus por se lembrar de nos! E eu tenho que ouvir as
verdades dele, suas broncas, dar tempo ao tempo. John, eu não esqueço e nunca
te esqueci!
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