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FATORES SÓCIO/HISTÓRICOS E O PRINCÍPIO DO PRAZER: institucionalização dos sujeitos, déficits de aprendizagens




                                                             BARROS NETO, Manoel Esperidião do Rêgo

 

             Os estudos sobre o desenvolvimento global e os déficits de aprendizagens observados nas Instituições[1] de acolhimento ou em cumprimento de Medidas Socioeducativas[2] nos levaram a compreensão dos fatores exógenos internalizados pelos sujeitos. Estes fatores seriam: econômicos/sociais, gestacionais, perinatais, vivenciais e políticos, a não compreensão do conceito de cidadania e por fim a dependência química.
            Os citados fatores são determinantes no conjunto dos aspectos psíquicos que distingue o sujeito (personalidade) e suas condições psicológico/intelectuais, mas estes fatores não devem ser estigmáticos. Porém, a intervenção do Estado sobre as famílias pobres vem culpabilizar e desautorizar o papel parental, e este processo (pobreza e falta de oportunidade social) vem justificar a institucionalização de crianças e adolescentes em Abrigos (Casas de Passagens).
            É licito supor que a falta de recursos financeiros por si só não constitui motivo para afastar a criança ou o adolescente do convívio familiar[3]. No entanto, a nossa observação não diz respeito ao processo de Institucionalização, mas sobre os déficits de aprendizagens e o desenvolvimento global. Por exemplo: cultural, equilíbrio pessoal, espaço e tempo, coordenação motora, percepção visual, trabalho em grupo (socialização) e por fim o estado emocional dos sujeitos Institucionalizados.
            Diante dos fatos apresentados observamos que as ações pedagógicas desenvolvidas em oficinas operativas de arte e cidadania mostraram que a Institucionalização e o preconceito social interferem no desenvolvimento emocional e consequentemente na organização de aprendizagens por vários motivos, como: o afastamento da criança ou do adolescente do convívio familiar, a não preservação da diversidade cultural, a vivência de rua e a não facilitação de politicas públicas (habitação, trabalho e renda, escolarização, saúde pública entre outros). Outro ponto observado foi à falta de amor por parte de alguns profissionais. Dolto[4] menciona que o amor é uma sublimação do desejo, para que uma criança sinta-se amada não precisamos beijá-la, e sim falar corretamente com sinceridade. Neste contexto sócio/histórico, observamos conflitos entre adolescentes e educadores sociais, essa realidade conflituosa inviabilizava as ações pedagógica/culturais e a rotina da Instituição. Esse pressuposto contextualizado pela observação, e associado aos dados bibliográficos psicanalíticos levaram-nos a autopreservação do “eu” ou o princípio do prazer, isto é, o princípio do prazer passa a ser substituído pelo princípio da realidade. Freud[5] menciona que o princípio de prazer é inibido no âmbito familiar diante da realidade do mundo externo. Em nossa compreensão estes sujeitos refletem uma sobreposição da imagem a eles direcionada, isto é, o espelho do ser do sujeito no outro[6]. Essa constância conflituosa vira rotina na vida destes sujeitos, tínhamos que entender e matricular os adolescentes nas escolas. Foi na busca por documentos que passamos a entender a não realidade escolar, alguns não tinham documentos e a própria Instituição de Ensino inviabilizava a matricula pelo desconhecimento da realidade social. “Direito a educação e ao pleno desenvolvimento, preparo ao exercício da cidadania e qualificação profissional[7]”. Contudo, não podemos culpabilizar os profissionais da educação pela não formação continuada sobre a Lei nº 8.069/90, ou pelo não conhecimento da atual realidade social. Mas, podemos discutir sobre a metodologia não dialogal utilizada nas escolas públicas de todo o País.
            O diálogo entre o objeto de conhecimento, o ensinante e o aprendiz são fundamental para o planejamento de atividades socioescolar. Esse processo iniciasse no primeiro contato entre o ensinante e o aprendente, isto é, no acolhimento de sala de aula. Devemos destacar também o contato do ensinante e a realidade sócia familiar dos aprendentes, isto é, estes dados devem estar registrados no PPP[8]. Outro ponto é a articulação da rede de atendimento entre; Secretaria de trabalho e Assistência social, Secretaria de educação e Saúde, Conselho Tutelar e Justiça.
            Partindo destas vivências, observamos que os serviços da assistência social e educacional, deveriam aprimorar estratégias voltadas à preservação da diversidade cultural oportunizando e valorizando as raízes culturais dos sujeitos Institucionalizados, das famílias e das comunidades de origem. “[...], levar-se-ão em conta as necessidades pedagógicas, preferindo as que visem o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários[9]”.
             A transmissão sócio/cultural vem determinar as relações entre: a comunidade e os sujeitos, essa cultura será objetivada por fatores vivenciais, isto é, a família, a escola, a comunidade local e os grupos de amigos. A estes elementos, unem-se aos aspectos econômicos, sociais e políticos. Estas características são determinantes durante a formação psicossocial e cidadã dos sujeitos envolvidos neste processo. Ao mesmo tempo registra-se: “No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos, históricos próprios do contexto social, garantindo a liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura[10]”.
             Com base nos elementos sócio/culturais, o trabalho da equipe técnica pedagógica da Casa de Passagem III, nas Medidas Socioeducativas em Meio Aberto e na Necessidade Especial - NAE oportunizou estas possibilidades em oficinas operativas de arte e cidadania, preservando a cultura dos acolhidos e levando-os a refletir sobre outras. Presume-se que a cultura e o saber deveriam assumir uma prática de liberdade na consciência dos sujeitos sociais, mas infelizmente não encontramos essa realidade nas Instituições educacionais. “VII – participação na vida da comunidade local[11]”. Este mesmo método de ação e acolhimento foi direcionado as oficinas de L.A[12].
            Para examinarmos os sujeitos em oficinas operativas nas Instituições pesquisadas e trabalhadas levamos em conta os fatores psicossociais e psicobiológico. Estes elementos permitiram-nos conhecer e perceber as capacidades cognitivas, o equilíbrio emocional (comportamental), a percepção de espaço e tempo, a interposição social (relação eu outro), as necessidades de ajuda, sentimentos negativos observados em oficinas, ações interpretativas com relação ao mundo vivido e por fim o processo de socialização dentro das instituições pesquisadas. A sequência dos acontecimentos permitiu-nos mostrar aos coordenadores das instituições que essa socialização deve ir além de quatro paredes, e assim possibilitamos visitas a exposições de arte contemporâneas, teatro e Concerto de Música Erudita e vista a monumentos históricos. A estas ações poderemos mencionar duas exposições de arte[13] no Museu de cultura Popular, outra no Salão de exposição Newton Navarro Capitania das artes da cidade do Natal RN.
            Neste contexto, observamos que é através da cultural que o sujeito exercita sua relação histórico/social, isto é, assume e incorpora as relações linguístico/cultural na medida em que fala e usa utensílios segundo a modalidade do seu grupo de pertencimento. Da mesma forma as ações culturais proporcionaria a internalização de pertencimento dos sujeitos a Instituição. Esta aprendizagem sócio/cultural garante à continuidade do processo histórico/social melhorando o relacionamento entre adolescentes e profissionais. Este mesmo processo de aprendizagem sócio/cultural deveria ser levado ao meio escolar, mesmo porque estamos acompanhando relações histórico/social. A escola deve perceber as diversidades linguístico/culturais e investir na juventude para mobilização o mundo e da diversidade. Devemos perguntar: Qual seria a comunidade dos meus sonhos? Ou qual é a melhor compreensão para o processo da aprendizagem? A escola não possibilita ao aprendiz a oportunidade da reflexão, do pensamento, em alguns casos não existe diálogo entre a aprendizagem e o objeto de aprendizagem.
            Essa compreensão cultural dos sujeitos institucionalizados nos serviço de acolhimento (Assistência Social) foi necessária para a facilitação das atividades e encaminhamentos. Isto é, o aproveitamento cultural suscitada pelos adolescentes em acolhimento foi o ponto de partida para o planejamento das ações desenvolvidas. Mesmo por que a incorporação e a representação do mundo vivido pelo outro vai facilitar a comunicação das oficinas operativas. Lakomy[14] observa que a aproximação do adolescente ao objeto de conhecimento ou ao conteúdo não nasce de uma aproximação vazia, mas das experiências e dos interesses prévios. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
            Desse modo, diante das realidades apresentadas em pesquisa e trabalho percebemos que, aprender não é o resultado do desenvolvimento, mas o próprio desenvolvimento[15]. “[...], a aprendizagem requer do aluno, criatividade, participação e auto-organização das informações recebidas[16]”. Desta forma concluímos que o processo de aprendizagens unem-se as relações sócio/históricas, e as construções linguística/sociais, esse processo ligasse ao princípio do prazer despertando curiosidades, autonomia e liberdade tanto do ensinante quanto do aprendente. 


[1] Casa de Passagem III, serviço disponibilizado pela Prefeitura da Cidade do Natal RN.
[2] Liberdade Assistida ou Internação (Meio Fechado).
[3] Orientações teóricas: serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. Brasília, junho de 2009.
[4] DOLTO, Françoise. A criança do espelho. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
[5] FREUD, Sigmund. Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros trabalhos – 1920. Volume XVIII. p. 06.
[6] Ibid.
[7] Estatuto da criança e do Adolescente. Disposições Constitucionais pertinentes. Lei nº 8.069/90. Brasília – 2007.  Capítulo IV. Art. 53.
[8] Projeto Político Pedagógico sócio escolar.
[9] Ibid. Título II; Capítulo II; Art. 109.
[10] Ibid., Art. 58.
[11] Ibid., Art. 92.
[12] Liberdade Assistida, serviço oferecido pela Prefeitura da Cidade do Natal RN.
[13] Exposição de composições desenvolvidas em oficinas operativas de arte e cidadania da Casa de Passagem III, do núcleo de atenção especial – NAE, e na Liberdade Assistida.
[14] LAKOMY, Ana Maria. Teorias cognitivas da aprendizagem. Curitiba: IBPCX, 2003.
[15] Ibid.
[16] Ibidem. 2003. p. 35.

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