DATA:
10/08/2013 – a dor do luto
Há vários dias, penso sobre o estado
de luto vivenciado pelas pessoas. Penso sobre a incorporação consciente do
objeto relacionado à perda. Mas, o que é o luto? O luto liga-se apenas a morte?
Estudando sobre a economia libidinal
da perda do objeto amado busquei os estudos psicanalíticos. Freud ao tentar
esclarecer os estados melancólicos abre um espaço ao enigma do luto. Lacan aprimora
este conhecimento, ao ser envolvido sobre o primado do significante, reitera o
recurso à demonstrativa metáfora ótica do significante.
A morte convida-nos a perceber as
diversas manifestações silenciosas do nada, abre um espaço psíquico/físico não
ocupado. Para Lacan o silêncio é encoberto pelo nada, igual a nenhuma imagem ou
palavra, representa o impossível real que se coloca no consciente do quadro que
não enquadra sobre a ausência insabida.
No entanto, ressalto que a ausência
do nada toma todo o corpo mental e físico, deixa transparecer a dor sentida
pela falta. Esta dor interiorizada e ao mesmo tempo exteriorizada revela um sentimento
de culpa. Poderíamos decifra-la assim: a morte física ou psíquica é uma dor
silenciosa, deixa espaço não ocupado.
Freud
esclarece em seu artigo “luto e melancolia” em 1924, a questão da dor ou do
desprazer físico/mental prolongado. No entanto, é necessário ressaltar que
amamos desejar o objeto, ou seja, a dor não se dá pelo registro simbólico da
imagem física do objeto, e sim pela desestabilização do registro mental sobre o
desejo libidinal representado na falta deste objeto.
Lacan examina ainda a dialética do
luto sobre a demanda do desejo libidinal, observa a cumplicidade do outro além
da imagem do espelho. Examina o destino das pulsões libidinais e os desejos
significantes sobre este significado.
Investiga a importância da perda
significante, a recusa da perda, o silêncio simbólico do desejo não mais
satisfeito. É importante citar que não devemos desprezar a dor e/ou o estado de
morte involuntária e inconsciente, mas significá-lo.
A morte confronta com o passado
inconsciente do vivente, destrói a imagem do si e do outro no momento ainda
presente. Leva à percepção do mundo externo e interno, mundo doloroso e
desorganizado, pelo ao menos.
Lembrando os deuses do olimpo
recordo Zeus o deus do trovão, este lança o raio rasgando o morto e o vivo com
seu tridente. Neste estágio o “eu” dos dois ainda são perceptíveis sobre a
imagem do corpo velado. O corpo em vigília deixa transparecer a dor insólita do
silêncio guardião do nada, o sentimento de incapacidade e remorso. Neste
instante instala-se um estado psíquico de recalque, onde o sujeito não se vê e
nem percebe outros. Essa condição psíquica não lhe permite ouvir nada, deixa
apenas a supressão da realidade momentânea.
Mas, logo após o sepultamento nasce à
ausência do espaço ocupado pelo outro, um sentimento negativo da rejeição, de
nada.
É a ausência do objeto sobre o
espaço não ocupado que o sujeito reencontra suas imagens sombrias, o labirinto
da memória sensorial revelando apenas o espaço não ocupado. Neste momento a
sombra traz o testemunho da distância entre o objeto desejado e o reflexo da não
projeção.
Tais sentimentos revelam outros
sentimentos, negação e/ou culpa. Essa condição patológica é influenciada pelo
medo, medo do abandono. O medo leva o sujeito ao isolamento total, o tempo,
verdade dorida queima o desejo libidinal do objeto amado. Esse fogo queima a
imagem sensorial da lembrança, neste instante a imagem torna-se apenas uma
lembrança encobridora.
Na verdade morremos todos os dias,
morremos quando dormimos, quando amamos loucamente ou quando nos distanciamos
do outro.
O sono leva-nos a morte, segundo
Dolto é no sono profundo que reina a pulsão de morte. É neste sono que passo a
destacar minha relação comigo mesmo, recomponho meu desejo e as forças mentais.
No sono a imagem respiratória
prevalece, traz a condição de não ser importunada pelo desejo do outro. No
entanto, é nas imagens oníricas que passamos a revelar desejos reprimidos pelos
signos sociais, revelam gozos e amores ardentes, desejos loucos e medos de
monstros encobertos pela vida.
Este final leva-me a dissertar sobre
o gozo da morte, um gozo ardente que mata, levando-nos a transcender. Neste
estado transcendental só ressuscitamos quando damos conta da respiração
ofegante. Contudo, é neste momento que passamos a perceber que para sentir
prazer necessitamos o desejo objeta do outro. Pois, o desejo do gozo também é
um estado de morte, morremos todos os dias...
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