CARACTERISTICAS EMOCIONAIS DA ADOLESCÊNCIA OBSERVADA EM OFICINA
PEDAGOGICA DE LIBERDADE ASSISTIDA: uma observância comportamental e
bibliográfica. Projeto livro da vida: UMA PEDAGOGIA DO DIÁLOGO
MANOEL ESPERIDIÃO DO RÊGO BARROS NETO
“[...], a agressão se
transforma numa busca por perseguição, que é uma tentativa de sair da loucura
de um sistema persecutório delirante” WINNICOTT.
Os atos agressivos descritos e
vivenciados nas oficinas de arte e cidadania na Liberdade Assistida (L.A), e na
Casa de passagem III são para estes sujeitos marcas de poder, de sofrimento, de
medo, muitas vezes é um reflexo de violência sofrida ou das Violações dos Direitos
Humanos. Em suas composições artísticas desenvolvidos em oficinas de arte e
cidadania, observávamos registros de diversos tipos de violências sofridas,
agressividades praticadas e a não compreensão do “eu”.
É importante compreender que os atos
agressivos são formas de ser, ao mesmo tempo devemos considerar a imaturidade do
adolescente e a não compreensão do self. Pode ser considerado um reflexo
inconsciente, ou uma resposta à violência sofrida, fazem parte do
desenvolvimento psicossocial e psicobiológico. Contudo, é necessário mencionar
que a adolescência é uma fase da vida em que o sujeito passa a sentir ou viver
apenas o momento. Winnicott (2011) menciona sobre as imperfeições próprias da
adaptação humana às necessidades essenciais do meio ambiente. Observávamos em
oficina ou em relatos verbalizados e em composições artísticas, a não
existência de planos de futuro, muitos afirmam que: “o futuro é a morte”. A maturidade
depende de vários fatores, das tendências hereditárias, mas, é também uma
questão de entrelaçamento complexo com o ambiente facilitador.
Carneiro (2010) menciona que a
transformação biológica no corpo do adolescente traz características sexuais e
uma explosão de interesses, estas ações hormonais exercem um efeito brutal no
psicológico do sujeito. Outro ponto que mexe muito com o adolescente são suas
preferências sexuais, muitas vezes a ação de preferir pode causar problemas
familiares. Winnicott (2011) menciona que a maturidade sexual não esta ligada
em manter relações sexuais, ela deve incluir toda a fantasia sexual
inconsciente, o sujeito precisa ser capaz de aceitar tudo que aparece na mente
junto com a escolha objetal, essa consciência objetal, ligasse a satisfação e o
entrelaçamento sexual. É importante mencionarmos que nestas fantasias
inconscientes incluem o complexo de Édipo, isto é, o impulso pelo progenitor do
sexo oposto. Este impulso provoca uma reação agressiva de afastamento, muitas
vezes, ele ou ela não admitem este sentimento.
Desse modo devemos sempre ter em
mente que o comportamento do ato de adolescer é sempre uma forma de protestar. Ao
mesmo tempo é uma forma de se colocar diante das adversidades da vida ou do
Capitalismo estético e delirante. Seus comportamentos subjetivos registrados em
atividades de oficinas pedagógicas de arte e cidadania mostram um sinal da sua
presença e ou da presença do grupo que faz parte.
São diversos os fatores
que levam uma criança ou um adolescente a estes níveis destrutivos. [...] O
primeiro fator destrutivo é a falta de atenção e amor, o segundo é a conduta
narcísica dos pais. O terceiro, vamos dividir em dois níveis: o abandono
familiar e a exclusão escolar. Outro
ponto que deveríamos estar alertas são os estados depressivos em crianças e
adolescentes (BARROS NETO. 2012.p. 24).
Contudo, para compreendermos cada
comportamento seja agressivo ou não, é necessário termos a compreensão do papel
familiar e escolar no desenvolvimento emocional, e ao mesmo tempo perceber os
padrões cognitivos deste desenvolvimento. Carneiro (2010) menciona que a
família sempre foi o grupo social responsável pela organização de tarefas e
limites. Para ela essa organização social se estrutura por meio de papéis e
funções que determinam o comportamento que cada sujeito terá nesse grupo, e acrescenta.
“A vivência desses papéis básicos dará ao indivíduo a noção de pertencimento,
de compromisso e de identidade que será necessária a seu desenvolvimento dentro
e fora da família” (CARNEIRO.
2010. p. 213). É por meio da vivência familiar, das intenções e dos
interesses, que os papeis e as regras sociais serão transmitidas. Winnicott (2011)
menciona que os membros da família desempenham papeis diferentes, e as crianças
utilizam-se deles para fazer com que suas experiências abranjam um campo cada
vez mais extenso, ampliando suas criativas e vivências.
Ao analisarmos as características
dos grupos em oficinas percebemos que os fatores familiares e escolares
deixavam a desejar no processo de desenvolvimento e na autonomia dos
adolescentes. Sendo necessário perguntar: o que é certo? E o que é justo, e
como educar? Qual é o papel da família?
A adolescência é uma fase que
diversas perguntas devem ser respondidas e esclarecidas. Para a família é a
fase da transformação, Carneiro (2010. p. 213) menciona que, “a família se
transforma de um ambiente que nutre e protege para um local que prepara o
indivíduo para a fase adulta”. Isto significa que a família deve adolescer e
ajudar este sujeito a sair da dependência assumindo responsabilidades.
Os pais
precisão negociar com os adolescentes, revendo regras, normas e rotinas. Os
filhos precisão assumir mais responsabilidades e deveres. Tudo irá mudar para
que o adolescente adquira maior autonomia e independência (CARNEIRO. 2010. P.
213).
Sabemos como este processo é
complexo e que, problemas de limites são alguns resultados das graves
disfunções familiares e sociais. O adolescente é um sujeito questionador,
principalmente o que lhe for ambíguo e inconsciente. Ele passa todo tempo
testando as verdades e inverdades do sistema, nossa experiência com oficinas
pedagógicas na Casa de Passagem III, e na Liberdade Assistida nós mostrou que
negociações e explicações podem gerar diálogos e resultados interessantes.
Conhecer a historicidade do sujeito é um ponto importante para gerenciar um
conflito, e pode trazer legitimidade e responsabilidade.
Vigotski (2010) menciona que o homem
tem dentro de si, no seu sistema secretório uma farmácia permanente. “[...], o
sistema hormonal ou secretório se encontra na mais estreita dependência e
relação com outros sistemas unificadores do organismo, ou seja, o circulatório
e o nervoso” (VIGOTSKI. 2010. P. 59). Os adolescentes vivem esse momento de
desenvolvimento hormonal e emocional, isso também deve ser levado em conta na
hora de se analisar um conflito. Em alguns casos devemos ficar atentos aos
fatores psicossociais de influenciação neste processo de desenvolvimento
emocional. Contudo, o comportamento antissocial desenvolvido por alguns
adolescentes segundo Winnicott (2011) é desenvolvido por um impulso que dá ao
sujeito para que voltem a um momento anterior a condição de privação. “Uma
criança que tenha sido submetida a tal privação sofreu inicialmente uma
ansiedade impensável [...]” (WINNICOTT. 2011. p. 83). Assim, para este sujeito
o ato infracional é um sinal de esperança a privação sofrida. Devemos desafia-lo
a enfrentar os desafios psicossociais, este entendimento aos desafios substituído
pelo confronto. Hoje vivenciamos uma exigência social sem precedente pela
maturidade responsável do adolescente, isto é, exigimos que nossos adolescentes
tornem-se adultos antes do tempo. Em contra partida não oferecemos uma
sociedade justa com educação intelectual, moradia digna, respeito e saúde
mental.
O lado emocional agressivo
desencadeia um sentimento de medo, de culpa ou de tristeza não surgem do nada,
é sempre antecedido de algum estimulo seja externo ou interno. Vigotski (2010)
menciona sobre estes estímulos como: reações reflexivas, motoras, somáticas,
secretoras e por ultimo a reação circular. Menciona ainda o citado autor (2010)
que a reação circular é o retorno das próprias reações ao organismo como novos
estímulos.
O ato de adolescer traz necessidades
e mudanças, não podemos tratar um adolescente como se trata uma criança, nem
trata-lo como se trata um adulto. Ele vive uma fase de transição, podendo
apresentar comportamentos de cumprimento de normas ou de querer controlar
arbitrariamente o ambiente. Vigotski (2010) menciona que o meio não é algo
absoluto, exterior ao sujeito, às vezes não se consegue definir onde termina as
influências do meio e começam as influências do próprio organismo.
As oficinas de arte e cidadania na Liberdade
Assistida revelaram que reeducar ou despertar análises sociais sobre violências
sofridas é um processo difícil, desgastante e cansativo, muitos pais não sabem
lidar com alguns comportamentos, por este motivo não sabem negociar. Outros
reagem ao adolescente com ressentimento e agressividade, ou negam o
comportamento disfuncional dos filhos deixando este à própria sorte. Devemos ter
em mente que as rebeliões provocadas pelos adolescentes pertencem à liberdade
oferecida pelos pais a seus filhos. “Você semeou um bebê e colheu uma bomba”
(WINNICOTT. 2011. p. 155). Do mesmo modo, Carneiro (2010) menciona que a família
não consegue enxergar o adolescente, deixando-o sem parâmetro, sem limite e
inseguro. Ao passo que o comportamento agressivo sem limite tem início no âmbito
família, e a este comportamento devemos apresentar diversas características.
“[...], estamos falando de ofensas, xingamentos, gritos, empurrões, quebra de
objetos etc.” (CARNEIRO. 2010. P. 218).
As atividades experienciais desenvolvidas
em oficinas de arte e cidadania na Liberdade Assistida possibilitou o
desenvolvimento de diálogos sobre diversos temas: cognitivos, signos sociais,
familiares e subjetivos do comportamento humano. Algumas vezes direcionamos aos
adolescentes uma simples pergunta: o que é conflito? E qual a minha importância
na sociedade como um todo?
REFERÊNCIAS
BARROS
NETO, Manoel Esperidião do Rêgo. Violência
e violação de direitos na escola pública: desafios enfrentados por docentes e
gestores. Natal R/N: ed. Do autor, 2012 – Trabalho de Intervenção
Socioescolar apresentado à Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, como
registro parcial para a obtenção do Título de Licenciatura em Pedagogia.
VIGOTSKY, Lev Semenovich. Teoria básica e dados experimentais. Internalização das funções
psicológicas superiores. 7º ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 51 a 59.
WINNICOTT,
Donald W. A família e o desenvolvimento
individual. 3ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
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Tudo Começa em Casa. Editora: WMF:
Martins Fontes. 2011.
CARNEIRO,
Elizabeth. Drogas. Sem. Rio de Janeiro: BestSeller, 2008.
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