GRUPOS OU GÊNEROS
MANOEL
ESPERIDIÃO DO RÊGO BARROS NETO
É necessário perceber que a
transformação de crianças e adolescentes em pequenos adultos, deriva do conceito
histórico, onde crianças não participavam de conversas de adultos, porém,
tinham que trabalhar para ajudar na subsistência da casa. Hoje o preconceito
originasse na idolatria do dinheiro, deriva da estética delirante ou de rituais
da beleza sobre o capital. Porém, se olharmos por outro ângulo, vamos perceber
sujeitos em busca de sobrevivência, essa cultura da participação da criança e
do adolescente no sustento familiar ainda é uma realidade. Por outro lado, a sobrevivência
nas ruas os obriga a comer do lixo, do resto de alguém ou ao roubo. As substâncias
psicoativas são utilizadas inconscientemente como substituição da carência afetiva
ou da fome.
A atual sociedade Capitalista vem em
busca de alternativas de vidas e ou das incertezas dos destinos pessoais, busca
o sujeito perfeito e especialista. Vivemos numa sociedade que descrimina e
escolhe seus membros, excluindo os que vivem nos guetos periféricos das grandes
cidades. É na apartheid do preconceito cognitivo, social, religioso, econômico
e político que faço a imagem do outro. Se o bom senso que faço de algo, não
basta para orientar minha prática, devo buscar em mim e no outro, os motivos do
seu desleixo ou até mesmo do meu. Freire (1996. p.62) menciona que, “o
exercício do bom senso se faz no corpo da curiosidade”.
Hoje buscasse um novo Código Penal
Brasileiro, tentam colocar adolescentes excluídos e sem escolaridade em
presídios. É mais fácil construir presídios e dar circo ao povo que construir
escolas e qualificar os professores para esta nova realidade de educação
social. Cada vez mais as sociedades vivem em pequenos guetos, somos
determinados não pelo valor humano e sim pela especialidade e pela condição dos
guetos que moramos. Estes sintomas são reflexos de uma sociedade escravocrata,
que manteve seus cárceres até o início do século XIX, e hoje continua mantendo
e excluindo.
Nos dias atuais, é muito comum
encontramos grupos de adolescentes fazendo parte do que iremos chamar de
gênero. Estes grupos se acham ligados pela similitude de uma ou mais
particularidades.
Alguns grupos denominados de
grafiteiros ou artistas de rua reproduzem seus delírios estéticos nas paredes
dos grandes centros urbanos. Outros reproduzem suas revoltas agressivas nas
paredes de prédios públicos, são os pichadores. Encontramos também grupos de
torcidas organizadas que tentam extravasar suas agressividades e necessidades
frustradas em vandalismo. Nos grandes shoppings encontramos milhares de grupos
de adolescentes reunidos, todos ligados às similitudes. É necessário perguntar:
estamos preparados para este novo estilo de sociedade delirante? Ou ainda não
compreendemos nossos limites e medos?
Quando muitos jovens em
gangues declaram que estão nesse estilo de vida pela adrenalina, pelo risco,
pelo perigo, não necessariamente aceitam a possibilidade de serem vitimizados
por violências, ou quando buscam enfrentá-los não se separam tanto de outros
agrupamentos juvenis que buscam reconhecimento por se mostrar e se aventurar,
serem parte e produto do seu espetáculo. (Gangues, gênero e Juventude: donas de
rocha e sujeitos cabulosos – Secretaria de Direitos Humanos – SDH. Brasília –
DF. p. 47. 1ª edição – Ano: 2010).
Foi
observando estes produtos subjetivos da imagem espetacular juvenil que nasceu o
Projeto Livro da Vida e a pedagogia do dialogo. Em nossa observação percebemos
que a necessidade do diálogo e a troca de experiência (vivência de mundo) em
oficinas pedagógicas eram reais. E na troca de experiência com adolescentes
pautamos nosso planejamento, este foi fundamentado numa base bibliográfica
psicopedagógico e psicanalítico, nascendo à psicotécnica pedagógica.
Buscamos as dificuldades de
aprendizagens, as incertezas emocionais, as vivências de rua, os conflitos
escolares e as ações subjetivas dos atos agressivos, por fim buscamos a baixa
estima. Percebemos que estas questões são necessidades absolutas nas
Instituições de Ensino e aprendizagem, e nas Instituições de Privação de Liberdade.
Contudo, o mais interessante, é que o Projeto nasceu primeiro na Casa de Passagem
III sendo continuado na Necessidade Especial e por fim numa Instituição de
Liberdade Assistida na Assistência Social, em Natal RN. “[...] a passividade do
aluno como subestimação da sua experiência pessoal é o maior pecado do ponto de
vista cientifico, uma vez que toma como fundamento o falso preceito de que o
mestre é tudo, e o aluno não é nada” (VIGOTSKI. 2010. p. 65). Convém ressaltar
que o sujeito compreende apenas o imaginário coletivo, “eu não tenho mais
jeito...” Ouvimos esta frase constantemente durante as oficinas pedagógicas de
cidadania, a escola não consegue dar resultado por compreender que este sujeito
é um problema social, seu futuro é ser bandido. Sua genitora já esta cansada de lutar pela
recuperação de seu filho e menciona inconscientemente, “gostaria que ele morresse...”
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. Rio de Janeiro, Paz e Terra.
2010.
------------.
Pedagogia da autonomia: saberes
necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (coleção
leitura).
VIGOTSKY,
L. S. O desenvolvimento da percepção e
da atenção. 7ª ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 21 a 31.
----------------,
Psicologia pedagógica. 3ª Ed. – São
Paulo : Editora WMF. Martins Fontes, 2010.
VIGOTSKY, Lev Semenovich. Implicações educacionais. 7º ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007,
p. 87 a 125.
----------------,
Teoria e dados experimentais. Domínio
sobre a memória e o pensamento. 7º ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007, p.
31 a 50.
----------------,
Teoria básica e dados experimentais.
Internalização das funções psicológicas superiores. 7º ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2007, p. 51 a 58.
----------------,
Psicologia Pedagógica – 3ª ed. – São
Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010.
Gangues, gênero e juventude: donas da rocha e sujeitos
cabulosos – Secretaria de Direitos humanos – SDH – Brasília –DF . p. 41.
Primeira edição – Ano:2010.
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