BARROS
NETO, Manoel Esperidião do Rêgo[1]
EXAMINAR
As sessões terapêuticas
consistem em buscar compreensões silenciosas, são através dos silêncios que se
buscam as intersubjetividades[2]. Ao passo que, os dados intersubjetivos devem ser cruzados com
observações de silenciosos olhares (pais
e escola).
EXAMINAR:
o silêncio e seus sintomas psicogênicos[3],
imagens projetivas, ansiedades provocada pelo medo do desconhecido.
Desse modo devem-se observar atentamente os
desconfortos gestuais, este é o ponto principal da analise. “O analista não se
abandona ao silêncio, mas se deixa levar por ele até a precipitação de um
dizer” (NASIO, 2010. p.193). Examinar que a suspensão da palavra favorecem as
derivações provocadas pela escuta
flutuante. Pois, o fluxo transporta a carga da palavra em espera, e o outro
não dito sustenta a neutralidade, a
se entender etimologicamente: não o tornando extinto, nem o analista nem a seu
analisando.
SESSÕES
TERAPEUTICAS: observar atentamente três áreas: pedagógica; cognitiva e principalmente o afetivo-emocional.
É necessário aprofundar os diferentes significantes simbólico/emocionais,
examinar o significado da escrita, a pedagogia alfabética, a psicomotricidade e
a importância da construção do conhecimento para a família. Tais significações
unem-se a busca pela compreensão do silêncio. Weiss (2008) examina que a queixa
não se resume apenas numa expressão linguística, mas ao olhar do ensinante.
A primeira sessão diagnostica desenvolvida no
ambiente clínico traz ansiedade tanto ao terapeuta quanto ao analisando e seus
familiares. Isto se dá em face de que o terapeuta deve penetrar num campo
desconhecido, privado e guardado a sete chaves. Pois, é necessário mencionar
que essa intersubjetividade é inconsciente - fator problema.
Convém examinar que o mal-estar físico/psíquico
apresentado pelo analisando e queixosos não são perceptíveis conscientemente. São
percepções Cs/Ics[4]
internalizadas primeiras pelos fatores emocionais, depois pelo cognitivo.
Diante dos dados contextualizados nesta primeira sessão devem-se examinar: se o
terapeuta não tiver um olhar fixo nos gestos e no silêncio – palavra não dita -
não irá perceber tais estados de desconforto.
Este mal-estar é caracterizado pela expectativa de
algum perigo, este se revela na anamnese e/ou apresenta-se durante as primeiras
sessões terapeutas - relações imprecisas intrafamiliares e interpessoais. No
entanto, quando se fala em fatos silenciados e ansiedades, fala-se dos fatores
psicogênicos predominantes inconscientemente.
Tais fatores são evidenciados pelos pais quando
demonstram a realidade do problema durante a sessão de anamnese. A esta sessão
pode-se solicitar que os pais projetem imagens (desenhem) para completar dados
da anamnese – vínculos familiares; Planta
da casa.
Cabe ressaltar que a casa é um dos lugares
significativos, neste universo os sujeitos têm noção de mundo e regras. Ou seja,
têm noção de sua realidade – o “eu”, existe aprendizado. Pois, tais espaços não
são apenas espaços físicos, mas são carregados de conteúdos emocionais
negativos e positivos.
Estes cômodos apresentam dinâmicas e normas, muitas
vezes não oferecem segurança. Ou seja, muitos ambientes não podem ser usados
pelos seus moradores.
“O
vínculo estabelecido em função da permissão e da proibição têm um papel
fundamental na aprendizagem e na escolha vocacional: os objetos pelos quais
posso me interessar com os quais posso ou não interessar” (VISCA. 2009. p.
112).
OBJETIVO
Conhecer a representação geográfica do lugar onde a
família mora, buscar espaços físicos destinados a cada sujeito – princípio do prazer.
PROCEDIMENTOS
Solicita-se ao entrevistado que se desenhe a planta
de sua casa, depois se solicita que ele coloque nomes de cada cômodo e indique
a quem pertence cada espaço, por ultimo realizam-se perguntas complementares. É
importante mencionar que tais perguntas dependem da realidade de cada caso, da
análise e do conhecimento sobre técnica projetiva desenvolvida do terapeuta.
INDICADORES SIGNIFICATIVOS
Detalhe
do desenho: tamanho da planta; mobilidade dos
espaços; objetos e enfeites; pessoas; aberturas; espaços fechados e abertos.
Possíveis
localizações do próprio quarto: moradia central ou
periférica; próxima ou distante dos pais; com função única ou múltipla. O quarto
representa o universo intersubjetivo e criativo do sujeito analisado.
Comentário
sobre o quarto:
aceitação; rejeição; indiferença; objetividade. Comentar sobre este universo é tecer
relatos inconsciente/consciente.
Lugar
de estudo: mobílias; isolamento-integração;
iluminação; materiais; disponibilidade de horários. Este espaço representa a
importância do aprendizado no imaginário do sujeito, sua cultura e a relação
entre: o “eu” e o “moi”.
Lugar
de reunião familiar:
onde; quem; como; por que e quando.
QUESTIONAMENTO
Onde
existe o problema da aprendizagem?
Onde encontr-se o sujeito e o princípio do prazer?
“O significado do sintoma para a
família será, então, a imagem que os pais têm das causas e motivos que geram o
problema, e os mecanismos colocados ao serviço da defesa contra a
desvalorização social que acarreta” (PAÍN. 1985. p. 40). Examina-se que as aprendizagens
trazem sentidos diferenciados a Classes sociais. Pois, as categorias social/econômicas
altas apresentam uma exigência do saber bem maior, a começar pelos
estabelecimentos de Ensino, nível e exigência de ensino e pais intelectualizados.
Para as Classes mais pobres, estes valores é uma questão de sorte, muitas vezes
as Instituições de Ensino não apresentam bom nível de desempenho, as exigências
pedagógicas muitas vezes não existem e alguns pais não apresentam bons níveis intelectuais.
Ou seja, para estas categorias o nível social econômico e intelectual dos
sujeitos não possibilitam tais buscas e muitos apresentam não apresentam confiança
em si próprio.
Em função disto os sujeitos se julgam indefesos
diante da internalização do problema e de sua própria condição Ics/Cs[5].
Freud (2010) menciona o quanto é difícil levar o analisando a compreender
alguns sintomas mudos. Desse modo, estes sentimentos ante ao desconhecido
provocam revelações conflitantes, medo e desconforto, tanto aos pais, quanto ao
analisando. Weiss (2008) revela que essa ansiedade deve ser bem dosada pelo
terapeuta durante as sessões, este deve possibilitar muita atenção a estados de
desconforto - emocional-afetivo e físico/psíquicos. “[...] a ansiedade pode ser
um agente motor da revelação interpessoal, [...]” (WEISS. 2008. p. 51).
ANAMNESE
Histórico
da Família Nuclear
É necessário examinar todos os fatos marcantes dos
pais antes e depois da entrada do sujeito no ambiente familiar. É importante
examinar principalmente as contextualizações socioeconômicas; culturais;
afetivo-emocionais e as diferentes etapas de vida. Para isto é necessário considerar
e investigar situações negativas e positivas vivenciadas pelo analisando e seus
familiares (mãe e irmãos) – nascimento de irmãos; mudanças ambientais; mortes;
desemprego; separação dos pais; mudança de escola, entre outras.
Quando se aprende coloca-se em jogo, a inteligência
e a afetividade, no entanto não são muitas as técnicas psicopedagogicas que
investigam este segundo aspecto. Visca (2009) menciona que diante da
epistemologia[6]
convergente as técnicas projetivas são utilizadas como meio de análise e
extração de um primeiro sistema de hipóteses. E este primeiro sistemas de
hipóteses é denominada de Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem –
EOCA.
Contudo, as duas linhas de investigações, EOCA e a
técnica Projetiva de expressão livre (desenho), revelam dimensões inconscientes
diferenciadas. Estes aspectos significativos são: cognitivos e afetivos da
personalidade e da conduta. No entanto, é necessário mencionar que ambas as
técnicas são projetivas, ambas projetam aspectos significantes do Ics/Cs. Pois,
ambas serão constatadas na anamnese. Assim, é necessário esclarecer que o termo
“Projeção” foi utilizado pela primeira vez por Freud em 1895.
“Tal
como expressão, J. Laplanche e J. B. Pontalis, em vocabulário de psicanalise,
projeção é um termo utilizado tanto em neuropsicológica com em psicologia para
designar a operação pela qual um fato neurológico ou psicológico é deslocado e
localizado no exterior, seja passado do centro para a periferia do sujeito ao
objeto e em seguida esses autores acrescentam: “no sentido psicanalítico,
[consiste na] a operação pela qual o sujeito tira de si e coloca no outro,
pessoa ou coisa, qualidades, sentimentos, desejos...” (VISCA. 2009. p. 19).
O termo originado da psicanalise
definiria mecanismos da paranoia, contudo mais tarde o termo foi retomado pelas
escolas psicanalíticas para designar um modo de defesa primário, comum à
psicose, a neurose à perversão. “[...] o sujeito projeta num outro sujeito ou
num objeto desejos que provêm dele, mas cuja origem ele conhece, atribuindo-os
a uma alteridade que lhe é externa” (ROUDINESCO. 1998. p. 603). Há de convir
que tais estágios sejam examinados em identificações Ics, ou seja, tal
identificação se faz todos os dias com o outro - projeção do espelho. Assim, as
sessões devem ser analisadas com muito cuidado, pois os aspectos significativos
são determinados pela primeira sessão de anamnese.
Convém observar que o processo de
aprendizagem consiste na produção e estabilização de condutas. Tais
contextualizações serão consideradas aprendizagens tanto as que se produzem no
contexto escolar como as que se elaboram no meio familiar e comunitário. Com
base nisto examina-se o vínculo que o sujeito estabelece com o ensinante, grupo
de amigos, a escola e a relação com os adultos significativos que lhes oferecem
modelos de aprendizagem.
REFERÊNCIAS
CAMPOS,
Dinah Martins de Souza. O teste do desenho como instrumento de diagnóstico da
personalidade. 45ª ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2013.
FREUD, Sigmund. Psicologia das massas e análise do eu e
outros textos; tradução Paulo César de Souza – São Paulo: Companhia das Letras,
20011.
NASIO,
J. D. O silêncio na psicanálise. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2010.
ROUDINESCO,
Elisabete. Dicionário de psicanalise. Rio
de Janeiro, 1998.
WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia clínica – uma visão
diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. 13ª ed. ampliada – Rio de
Janeiro: lamparina, 2008.
VISCA,
Jorge. Técnicas projetivas psicopedagogicas e pautas gráficas para sua
interpretação. 2ª ed. Buenos Aires: Visca
& Visca, 2009.
[1] Pedagogo com Especialização em
Psicopedagogia e Orientação Psicanalítica. Os dados registrados nesta
avaliação foram retirados do Texto: “Processo de Avaliação Psicopedagógica” - Autor:
Barros Neto.
[2] Campo de interação comunicativa
ou relação interpessoal que em posição aos objetivos individualistas constituem
o sentido pleno da experiência humana. Nota do autor.
[3] Fenômenos somáticos com origem
psíquica, nota do autor.
[4] Consciente/Inconsciente, nota do
autor.
[5] Inconsciente/consciente, nota do
autor.
[6] Etapas e limites do conhecimento
humano, relações entre o sujeito indagativo e o objeto inerte, nota do autor.
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