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Psicomotricidade e grafismo


BOSCAINI, Franco. Psicomotricidade e grafismo: da grafo motricidade à escrita. 1998 - Instituto Italiano Di cultura. Rio de Janeiro – Sete Letras.

 

BARROS NETO, Manoel Esperidião do Rêgo 

                Segundo o autor todos os trabalhos sobre atividades gráficas, oferecem resultados parciais. E em referência apenas as produções gráficas, pode-se notar que a maior parte das produções artísticas recebem orientações psicanalíticas do desenho e da escrita. Poucos autores abordam a problemática da gestualidade, do traço, da motricidade e da estética. Contudo, os estudos sucessivos se orientam mais tarde sobre a expressividade considerando a ligação entre grafismo, gestualidade e movimento. O citado autor observa que a atividade gráfica é um meio de comunicação que se origina do corpo expressando-se através da escrita e do desenho.
EXPRESSÕES HUMANAS
            O homem é por natureza um ser comunicante e para esta comunicação ele utiliza-se de uma vasta gama de linguagens, ou seja, utiliza uma série de símbolos que associa aos objetos. É importante percebermos que a linguagem corporal encontra-se na origem de cada comunicação, pois, o corpo é o ponto de partida de toda expressão comunicativa.
EXPRESSÕES VERBAIS
            A comunicação verbal foi difundida com a evolução cerebral e do aparelho fonoarticulado. Mais tarde surge a expressão rítmico-motora, este tipo de comunicação se identifica na própria ação e no comportamento motor mediado pelas imagens, ou seja, difunde-se na dança, na mímica, no teatro e no canto.  
EXPRESSÃO PLÁSTICA
            Reproduz imagens e fantasias em expressões reais, ao projetar estas imagens o autor expressa sentimentos negativos ou positivos reais, pois, transforma o mundo interno em elementos reais. Já a expressão gráfica é uma reprodução consciente ou não, também se refere a sentimentos, necessidades e/ou conhecimentos culturais e acadêmicos. Contudo, deve-se considerar que as expressões gráficas e verbais muitas vezes se conjugam no uso da comunicação.
TRAÇO GRÁFICO: uma linguagem não verbal
            Garatuja e/ou desenho, ainda que organizados, são resultados de um ou mais movimentos, são gestos gráficos que possuem valores expressivos, preexistindo à linguagem verbal dos sujeitos. Segundo Wallon H. (1963) são consequências dos gestos, e/ou é o traço deixado na trajetória do gesto, sendo assim, não podem ser considerados como um início do desenho, a não ser quando o traço e/ou traçado se tornam o motivo do gesto. 
            É necessário examinar que quando a criança começa a rabiscar ela compreende que este gesto direcionado a folha deixa um traço, ou seja, um traço do seu corpo, do seu movimento. E ao observar os inúmeros traços deixados sobre a superfície ela deixa transparecer a satisfação entre o gesto e a superfície que recebe o traço. Para Dolto a garatuja, antes do desenho da figura humana, é a projeção da imagem do corpo da criança, assim como ela o percebe, não em seu fator cognitivo, mas sobre o plano do investimento afetivo, uma imagem narcísica, libidinal, uma imagem de segurança de base dinâmica, isto é, dinamicamente ligada à satisfação das suas próprias necessidades e desejos.
            A garatuja, enquanto produto inconsciente do sujeito, é uma projeção do seu espaço corporal, é um gesto emocional vivencial, e não um simples ato motor é uma realidade que evidencia uma ligação entre o movimento e o traço. Pois, devemos perceber que o movimento e o espaço é um movimento mediador, dinâmico entre o espaço internalizado e o exógeno, ou seja, é a sua realidade invisível em um objeto. Assim, é necessário perceber que a garatuja é considerada em todos os múltiplos aspectos um estado neuromotor e psicológico, e não uma postura tradicional da simples banalização do rabisco. Desta forma, necessário examinar que qualquer traço, desenho ou qualquer produção concreta e organizada pelo sujeito deriva da sua necessidade em exprimirem-se, pois, todas as vezes que não consegue fazê-lo em linguagem verbal, e/ou todas as vezes que deseja traduzir algum estado emocional interiorizado, expressa um testemunho vivencial, e/ou sua identidade.  Contudo, cada produção humana é única e expressiva e indivisível, pois, será sempre diferente uma da outra. Desta maneira, sua interpretação é sempre difícil e ariscada quando não existe um diálogo entre a interpretação e o sujeito, Freud menciona que a expressão artística é uma expressão inconsciente. Ouaknin (1986) menciona que; “um sentido não está jamais onde se faz ver; um sentido dado é, à primeira vista, sem sentido; um sentido tematizado é morto”.
LEITURA DO SIGNO GRÁFICO
            Para compreender cada produção, ou seja, desenho e/ou construções e formas plásticas, é necessário ter dois níveis de leitura: aspecto superficial: onde se refere ao aspecto formal: como se faz? Aspecto profundo: este traz os vários aspectos significativos, ou seja, o aspecto conceitual e o afetivo: o que quer dizer?
            É importante perceber que o desenho não é senão o traço de si, um testemunho vivencial, experiências e conhecimentos. Podemos mencionar que nos traços gráficos existem aspectos subjetivo-reais, porém, a dimensão sentimental e vivencial dependerá da situação, da espontaneidade, da solicitação, do tipo da relação e do significado atribuído seja do autor, seja do solicitante interlocutor. O conhecimento é feito de: percepções enteroceptivas - movimento, desenho - necessidades emocionais e pensamento primitivo; e desenho, percepção exteroceptiva, pensamento lógico/real. Este esquema permite compreender o desenho não como um ato motor, mas os elementos próprios da vida afetiva, ou seja, dados atinentes ao conhecimento real das coisas, experiências vivas, em outros aspectos traz compreensões cognitivas das aprendizagens. Para Lowenfeld a criança é um ser dinâmico e a arte é a comunicação do pensamento, dos sentimentos, das percepções e das reações vivenciais ao ambiente. Contudo, esta compreensão se aproxima sempre do verdadeiro, e quando necessário colocam-se três perguntas:
            O que vejo? Refere-se aos aspectos formais, a estrutura do espaço, a harmonia, as proporções, a organização espacial, a representação de situações ou objetos da realidade.
            O que sinto? Referem-se aos estímulos, sentimentos e emoções diversos, pois, o traço traduz emoções próprias do autor do traço.
            O que imagino? Por detrás de cada imagem reproduzida sobre o papel ou parede escondem-se o fantástico e o fantasmático, ou seja, são imagens inconscientes não reveladas. 
EVOLUÇÃO DA MOTRICIDADE GRÁFICA
            Segundo o autor os estudos intrínsecos presentes na motricidade do ato gráfico são essenciais, já que o desenvolvimento é estritamente dependente deles, ou seja, da progressão, das competências perceptivas e simbólicas da regularidade do desenvolvimento psicomotor. Ele divide a motricidade gráfica em três fatores fundamentais: 2 a 3 anos – favorece a expressão de si, tanto em termos afetivos quanto cognitivos.
            Porém, é necessário perceber que as primeiras coordenações de movimento acontecem por volta dos 10 a 12 meses – é a revelação dos movimentos impulsivos, expressa necessidade interior, pois, este movimento se expressa através de uma descarga motora incontrolada. No qual, a expressão de movimentos implica na participação de todo o corpo, e não só do braço.  Ou seja, o sujeito vive o prazer sinestésico em si mesmo, um prazer no produzir, correlacionando estes aspectos ao nível pedagógico e reabilitativo devem ser considerados: experiências, sensório-motor vivenciado intensamente de modo prazerosa, a globalização da experiência psicomotora implicada no investimento da totalidade do corpo.
ESPAÇO E GRAFISMO
            Espaço subjetivo ou de configuração: é o espaço experimentado pelo braço com seus movimentos, ou seja, o eixo do corpo corresponde em hemisfério direito e esquerdo ou cruzado.
            Articulação proximal: o braço em torno do ombro; o antebraço em torno do cotovelo; a mão em torno do pulso e o espaço objetivo ou espaço gráfico é o espaço no qual se realizam os traçados gráficos, este é estreitamente dependente do controle visual.
EVOLUÇÃO DO ATO GRÁFICO
            A elaboração do grafismo ocorre paralelamente ao desenvolvimento psicomotor através do qual a avaliação da atividade é feita levando em consideração todos os fatores que possam estar implicados: competências motoras, vida afetiva, capacidade intelectiva, competência relacional e linguística, aprendizagem, ambiente e experiências em geral.

           

         

 

 

 

 

 

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