BARROS NETO, Manoel Esperidião do Rêgo
“Todo
pensamento, todo comportamento humano, remete-nos à sua estruturação
inconsciente, como produção inteligente e, simultaneamente, como produção
simbólica” Sara Paín.
Para discutirmos ou pensarmos em
déficits cognitivo-emocionais e ou evasão escolar, devemos examinar primeiro a
imagem corporal (internalização do eu/social) e na imagem espetaculares
(“eu/social”) internalizadas pelos sujeitos. Para sermos mais claro, o eu
emocional e o eu social. Isto é, devemos observar as reproduções das imagens
corporais passada pelo grupo social em que o sujeito esta inserido, o outro tal
qual o espelho (imagem do espelho). Este outro é a reprodução da nossa imagem
ou o nosso esquema corporal, a psicanalise vêm chamar essa imagem de corpo
despedaçado.
É nos vínculos com o outro que
iremos estabelecer a nossa presença sensorial corpórea, isto é, só vamos
estabelecer uma corporeidade interna a partir do outro, relação mãe e filho. Neste
momento iremos internalizar a imagem do outro, ao mesmo tempo seremos
internalizados pelo outro, ou melhor, essa relação constitui uma história vincular
e entrelaçada. E a sintomatologia do déficit de aprendizagem surge na neurose
relacional e emocional com os outros. Fernández[1] observa que a estrutura
inteligente forma parte do inconsciente, e a aprendizagem participam desta
estrutura, do mesmo modo ela também é uma estrutura desejável, ambas são
inteligentes. Cabe ressaltar que esta sintomatologia é proveniente de
estruturas genéticas e relacionais.
Falar de inteligência ou déficits de
aprendizagens é necessário examinar o intercâmbio afetivo-cognitivos, o meio
sócio familiar e o sócio escolar (as estruturas simbólicas ou o nível de desejo,
bem como, a metodologia apresentada pelo ensinante). Isto é, devemos examinar
os fatores exógenos emocionais e os vínculos internos do sujeito, depois os
vínculos entre o ensinante e o aprendente. Para Fernández (1990) os estudos
patológicos sobre aprendizagem começaram entre duas teorias que tratavam
separadamente a inteligência e o inconsciente, a epistemologia genética de
Piaget e a psicanalise de Sigmund Freud. Assim para desenvolvermos uma transformação
emocional/cognitiva durante o atendimento clínico com grupo operativo ou
individualizado, deveremos examinar os vários estágios de desenvolvimento:
emocional e cognitivo, isto é, as relações sócio/afetivas. Ao mesmo tempo levaremos
em conta o todo desejável na observação do objeto de conhecimento, ou a
importância deste conhecimento a nível familiar. Fernández[2] cita que para traçarmos
este diagnóstico devemos investigar quatro fatores: o grupo familiar, os pais, o
grupo de irmãos e os sujeitos.
Porém, para a relevância dos fatos
apresentados é importante termos em mente que a nossa interpretação no discurso
transmitido, não pode ser feita sem levarmos em conta o nível da realidade
sócio/familiar e econômica, e assim levantar uma leitura inteligente da
realidade apresentada. Ao passo que, devemos priorizar a dimensão e a
importância do desejo, a realidade simbólica e sócio/econômica das famílias e
dos sujeitos. Porém, é relevante mencionar que toda aprendizagem é sinônimo de
mudança e liberdade, essa mudança é dialética entre o sujeito e o objeto de conhecimento
por isto a importância da dimensão do desejo a nível familiar. É necessário observarmos que toda dialética
gera conflitos inconscientes entre o ser e o objeto. Como já observamos, para
estudarmos sobre déficits cognitivos, comportamentos ou dificuldades de
aprendizagens, não devemos ter uma visão unilateral, estereotipada e
preconceituosa, embora o atual método de ensino/aprendizagem nós leva para este
caminho. Em nossa pesquisa numa Instituição socioeducativa, observamos a promoção
da exclusão escolar dos aprendentes, o conflito social gerado pela não
compreensão do contexto sócio/cultural (ensinante e aprendente), e a não
apreensão de conhecimento, em nossa observação estes fatores também são geradores
de conflitos internos e externos. Diante deste contexto, passamos a estudar os
conflitos internalizados pelos sujeitos, e a Instituição de ensino. Desta forma
examinamos que existe um conflito entre, a empiria e o processo teórico. Isto
é, a realidade subjetiva que leva a uma disputa entre: a cultura vivencial e o
universo acadêmico.
É importante destacarmos que a
pesquisa[3] foi realizada numa
Instituição Estadual de Ensino no Município de Natal Capital. Os estudos
mostraram-nos que não temos uma escola atrativa, que promova um diálogo entre
os sujeitos e os processos de conhecimentos ou exija uma reflexão sobre o ato
de pensar, que promova estrutura interna desejável levando o sujeito a uma
liberdade de ser e agir. Nesta instituição percebemos aulas não dialogadas,
falta de preparo dos gestores sobre comportamentos agressivos (formação
continuada e a não compreensão do sistema social, familiar e econômico),
desconhecimento da Lei: 8.069/90[4], entre outros. Estes dados
observados durante a pesquisa apontou aprendizes desinteressados e geradores de
conflitos, ao mesmo tempo percebemos o tráfico de substâncias psicoativas,
disputa territoriais de torcidas organizadas.
Se examinarmos a exigência do
processo de ensino/aprendizagem seja atual ou passado, perceberemos sujeitos
imóveis em fila indiana (sujeitos perfeitos, que não se mexem, não falam e não
pensão apenas decora), uma imposição do conhecimento teórico que dispensa
diálogo, e dispensa o saber vivenciado pelos sujeitos. A concepção construtivista interpreta o
processo de ensino-aprendizagem como um processo de caráter social. Em nossa
observação este conceito teórico não é real, isto é, os valores sócio/culturais
dos sujeitos não são interpretados pelos ensinantes[5]. O atual processo de ensino nós força a
investigar o todo metodológico, os déficits de aprendizagens, a exclusão dos
sujeitos, as evasões e a construção cética do universo acadêmico.
É importante mencionar que a grande
maioria dos aprendizes da escola pública apresentam comportamentos
internalizados de repressões social, familiar, econômica e ou exclusão social.
O presente trabalho iniciou-se durante a conclusão da Formação Acadêmica em
Pedagogia, estudos Psicanalíticos e o acolhimento dos adolescentes em oficinas
pedagógicas operativas na Liberdade Assistida. Estes estudos foram ampliados
com a leitura dos Processos Judiciais dos adolescentes autores de atos
infracionais, e o acolhimento dos responsáveis dos citados jovens. Os dados
levantados nos levaram a ampliação de outros conhecimentos, ex: respostas agressivas
(imagem ação), relações familiares, evasões escolares, o dano pessoal e
patrimonial transformado em ato infracional, por fim a dependência de
substâncias psicoativas.
Os resultados nós leva a crer que os
conjuntos de características que distingue os sujeitos são marcados por e
algumas contradições internalizadas, essas contradições são necessárias para
que os sujeitos satisfaçam seus desejos, é neste momento em que ele entra em
contato com o outro, é neste momento que ele vai interagir com os processos
inconscientes e exógenos (o todo social). Estes estudos levaram-nos a pesquisar
sobre a influência e o dano psíquico da dependência química, e a importância
dos jogos no processo de apreensão durante as oficinas pedagógicas operativas
de arte e cidadania na Liberdade Assistida.
Durante as oficinas foram
trabalhados os jogos simbólicos, exploratórios e matemáticos; um dos jogos
matemáticos aproveitados em atividades geométricas de criação artística e
textual foi o tangram. Durante os exercícios procuramos perceber e trabalhar o
raciocínio lógico, a coordenação motora, espaço e tempo. Examinamos também a
percepção dos déficits cognitivos e a percepção dos signos sociais
internalizados pelos sujeitos. Com estes dados buscamos investigar também a
idade de ingresso escolar, as causas das evasões escolares, a perinatalidade
dos adolescentes junto às genitoras, o tempo de dependência química e os
déficits aprendizagens causados por estas dependências.
Essa proposta de intervenção nas
oficinas pedagógicas na Liberdade Assistida veio trazer uma nova elaboração,
realização e compreensão de comportamentos agressivos. Ela integrou questionamentos
acerca de si e dos outros (o “eu social”), além de trabalhar o ócio criativo e
os processos emocional/cognitivos. Examinamos também a apreensão dos signos
sociais, a autoestima e a não evasão das medidas socioeducativas. Ao mesmo
tempo estabelecemos uma conexão entre a escuta, à interpretação das composições
artísticas e as vivências de mundo. Desta forma procuramos estabelecer uma
relação entre a linguagem falada, os signos expendidos na pele dos
adolescentes, vivência de rua, relação familiar, a exclusão escolar e a
internalização das substâncias psicoativas.
Este método possibilitou aos
adolescentes compreensões dos textos lidos e os diálogos durante as oficinas,
melhorando a relação entre o mediador e o grupo. É necessário examinarmos que antes
desta intervenção exista uma não conexão entre os trabalhos pedagógicos
planejados, não compreensão comportamental entre os adolescentes e os
mediadores, e um grande número de evasões. Cabe ressaltar também que toda
aprendizagem é um processo continuo e a interação/comunicação é indissociável, esses
diálogos nós possibilitou uma compreensão a partir da relação com o outro durante
as oficinas Operativas Pedagógicas na Liberdade Assistida. Contudo, este
processo relacional/ desejante, deveria ser inserido em toda vivencia
socioescolar dos sujeitos. Isto é, a cultura internalizada dos sujeitos deve
ser dialogada para que ele possa compartilhar seus vínculos sociais, culturais
e emocionais, ou melhor, deve haver condições orgânicas, motoras, afetivas e
sócio/cultural para o desenvolvimento emocional do saber.
O processo de inteligência e
aprendizagem seja desejável ou não é associada ao inconsciente, contudo, para
que haja uma construção cognitiva satisfatória é necessária condição de
desenvolvimento socioambiental e emocional, do mesmo modo os fatores biológicos
vai contribuir para este processo. Ao mesmo tempo o aprendente deve interagir
com o todo social, construindo em seu interior uma satisfação participativa,
essa participação é transformada inconscientemente em desejo. Contudo, o “eu
social” são ao mesmo tempo construções pares e incompatíveis, essa
incompatibilidade pode ser compreendida numa estreita conexão entre: o objeto e
o sujeito. Como já observamos essa
relação eu/outro, (tal qual o espelho) desenvolve a imagem de coisa completa, esse
outro vai reproduzir a imagem social imposta involuntariamente. É importante
destacar também que as composições artísticas e a criação textual desenvolvidos
em oficinas pedagógicas operativas e situacionais nós ajudou a compreender o
real simbólico e o real imaginário, ao mesmo tempo desenvolvemos criações
artísticas e textuais. Estas criações foram associadas a atividades geométricas
com tangram e jogos exploratórios, atividades com sentenças incompletas. Nas
oficinas de criação desenvolvemos atividades de composição de Rap. O Rap é um
estilo musical proveniente das classes populares de periferia, nasceu nos anos
70 nos Estados Unidos, no Brasil foi ampliado a outros gêneros musicais. A
atividade de composição foi longa, teve a participação do educador social e
professor de música Andrey Azevedo, e a interação da equipe técnica, bem como,
a participação do autor deste texto. Essa atividade foi associada à criação
geométrica com tangram, onde nasceu o texto “menino 157”.
Além de buscar a capacidade dos
adolescentes, buscamos trabalhar autoestima e a reconstrução do “eu social e
familiar”, contudo, devemos mencionar que muitos dos participantes deste
exercício são dependentes químicos, estes sujeitos foram acompanhados mais de
perto pelos mediadores.
A equipe técnica da Instituição teve
uma grande importância nesta atividade, nos ajudou na gravação do gênero
musical, apresentando ao grupo o CD gravado durante o encerramento da oficina,
“[...] boy, eu nunca pensava fazer uma coisa como essa, vou ouvir todo dia!”
Exclamou um dos participantes.
É necessário mencionarmos que o
desenho e a escrita andam juntos durante o desenvolvimento cognitivo dos
sujeitos. E nas composições artísticas desenvolvidas em oficinas encontramos
déficits aprendizagens. Nas anamneses desenvolvidas com as genitoras percebemos
a falta de controle sobre o adolescente, uma gravides indesejada (negação
fetal), a não posição familiar dos sujeitos, as dificuldades econômico-escolares,
saúde e moradia, violência domestica, dependência química e outras informações.
Os textos lidos e debatidos nas
oficinas operativas de arte e cidadania foram buscados dentro da realidade de
mundo vivenciados pelos sujeitos, nestas atividades de leitura, trabalhamos alguns
Artigos da Lei: 8.069/90, documentários (gestação, dependência química, arte e
cores, dentre outros) e filmes em desenhos animados. Estas atividades tinham o
intuito de reflexão, deveres sociais e pessoais, e a inserção escolar. Como foram
colocados os textos lidos foram selecionados de acordo com: os signos sociais e
a linguagem relacional apresentada pelos sujeitos nos grupos operativos. As
atividades tinham o intuito de buscar uma visão teórica da pedagógica social e
escolar, do mundo vivido pelos adolescentes, a percepção dos signos sociais, as
imagens expendidas inconscientemente na pele, e a relação proximal dos grupos
em que estavam inseridos. Como exemplo
utilizamos textos de jornais, revistas, documentários e filmes, após as
leituras, objetivávamos diálogos desafiadores da imagem corporal e espetacular.
A evolução sadia e a imagem do corpo não invalidado dependem dos estados
relacionais. Há de considerarmos que toda espaço educativo deve ser um espaço
de confiança, liberdade e jogo[6].
Diante deste objeto de conhecimento
desenvolvido, apresentado e utilizado nas oficinas pedagógicas operativas de
arte e cidadania, percebemos que a reorganização e as estimulações pedagógicas
devem passar pela experiência dos sujeitos, desde que as escolhas dos objetos
trabalhados facilitem a compreensão do “eu/social” e “eu/acadêmico”. Vygotsky[7] (2007) menciona que
linguagem escrita é uma construção de signos que designam do som de palavras e
da linguagem falada, são signos relacionais ligados a entidades reais. Assim, o
trabalho ora apresentado, busca as características vivenciais, a linguagem falada
e os signos relacionais em entidades reais. Podemos concluir que as realidades
analisadas durante o acolhimento dos adolescentes e as anamneses desenvolvidas
com os responsáveis, possibilitou-nos a compreensão dos sistemas relacionais de
signos sociais e familiares, desta forma, concluímos que estes símbolos
comunicativos são complexos, inconscientes e mecânicos.
As escutas com os responsáveis
mostraram conflitos familiares, de desenvolvimento cognitivo e emocional, a
exclusão escolar e a entrada tardia na educação infantil. A estes fatores
percebemos também a exigência social sobre o trabalho infantil e adolescente, a
consciência social sobre este tipo de exploração ilegal e ainda é realidade no
Brasil.
Devemos esclarecer que a estes
sujeitos não foi permitida o acesso à educação infantil, a não compreensão e
conclusão do ensino fundamental I, a exclusão escolar por diversos motivos, um
deles é a falta de competência escolar, a outra é a não capacitação dos
profissionais da educação sobre o novo sistema social e familiar. É importante
destacar que a Educação Básica promove a formação inicial dos sujeitos, e
permite a continuidade de desenvolvimento emocional e cognitivo.
Nas oficinas foram observados
déficits de aprendizagens, memória atual comprometida, equilibração,
coordenação motora, leitura e escrita, percepção de espaço e tempo, entre
outros. Estas etiologias apresentam características cognitivo-emocionais e vivenciais,
sendo agravadas pelo uso e dependência de substâncias psicoativas, vivência de
rua, e os constantes atos infracionais. Porém, é necessário mencionar que as
causas antigênicas deixa o trabalho da produção textual completamente comprometida,
contudo, o desenvolvimento criativo fica livre. A estes exercícios, levamos em
conta as vivencias e as dores sociais e emocionais. As atividades de criação, textual, musical, composições
artísticas, jogos simbólicos e estimulação, permitiu-nos analisar questões como
os signos sociais, relacionais e emocionais. Cabe ressaltar que durante as
oficinas de criações textuais houve a intervenção dos mediadores, junto a estas
intervenções existiu a experiência pedagógica, psicopedagógico, e a dedicação
profissional.
Para o planejamento de oficinas
levamos em conta a complexidade do pensamento, do mundo exógeno, os aspectos
internalizados socialmente, e o resultado dos comportamentos antissociais e a
falta de segurança dos profissionais no Sistema Socioeducativo. Há de se
considerar que este trabalho desenvolvido na Liberdade Assistida de todo o País
é colocado em risco pela influência da teoria neoliberal oferecida pelo
pensamento Capitalista excludente e neurotizante. No Brasil a exclusão sócio/escolar,
a imagem do adolescente pobre e bandido publicado e desenvolvido pela imprensa
e redes sociais, a falta de políticas públicas marginaliza e mata estes
sujeitos. Aos atos infracionais unisse: a falta de moradia, emprego e renda, a
não escolaridade dos pais e dos filhos, a rejeição da criança após a
perinatalidade, o reflexo da Ditadura Militar sobre a polícia. Ex: extermínio,
tortura e a falta de preparo dos profissionais. A estes tópicos destacaremos a
despolitização da sociedade e a adoração sobre o Capital, à formação de guetos
nas periferias das grandes cidades brasileiras.
Estes fatores sociais inconscientes
vêm contribuir para o avanço do pensamento neoliberal, o avanço do pensamento
estético/delirante e capital e a destruição das classes menores. Porém, o que
pesa mais é o comportamento da Segurança Pública (Policiamento de rua), estes
comportamentos preconceituosos e violentos são resultantes das Ditaduras
Militares na América do Sul. Foucault[8] (1987) menciona que a
ideia do suplício está sempre presente no coração do homem fraco, e a arte de
punir repousa sobre a tecnologia da representação. Devemos destacar que a ideia
de punição é um fator histórico/social, e ainda hoje é representada pela
sociedade em função dos seus interesses próprios. Para sermos mais claro a
gravidade dos crimes e o olhar preconceituoso determina a punição, ao mesmo
tempo essa punição é interiorizada pelos sujeitos autores de atos infracionais.
Segundo o SINASE[9]
(2010) a medida socioeducativa é uma resposta social ao crime praticado pelo
adolescente, a ele impõem-se restrições de seus direitos. A estrutura atual deste
Documento estabelece cinco linhas de ação em cinco áreas: Educação Básica,
Educação Superior, Educação não-Formal, Educação dos Profissionais dos Sistemas
de Justiça e Segurança Pública, Educação e Mídia. Um dos maiores problemas ou a
ideia de impunidade é que a lei não é cumprida por culpa dos governantes
Estaduais.
As oficinas de Liberdade Assistida
têm o objetivo de trabalhar a compreensão dos signos sociais, o retorno escolar
e a reparação social do dano causado pelos adolescentes. O presente trabalho de
intervenção pedagógica na Liberdade Assistida tem o objetivo do retorno escolar
e reflexão sócio/familiar interrompida por vários motivos. Contudo, para um
melhor desempenho deveríamos acompanhar o retorno sócio/familiar e escolar dos
adolescentes envolvidos. Contudo, os gestores e docentes deveriam receber
capacitações sobre o novo conceito social imposto pelo Capitalismo excludente,
nesta capacitação seriam observados as causas da não aceitação da escola e os
danos sociais causados pela evasão ou negação do outro, o “eu social”, o
ambiente vivencial do adolescente, o uso e a dependência de substâncias
psicoativas e os danos inconscientes da vivência de rua. É necessário ressaltar
que todos estes dados foram observados e compreendidos durante as oficinas
pedagógicas na Liberdade Assistida. Contudo, necessitamos do interesse
profissional e Especialização Acadêmica na área além de um trabalho amplo de
pesquisa.
Os resultados de nossa pesquisa
mostraram que os padrões comportamentais surgem em respostas aos fatores
específicos e situacionais e ou do desenvolvimento emocional. Cabe ressaltar
que a Lei de Proteção infanto-juvenil está amparada em normas Nacionais e em
conjunto com um significado de documentos internacionais, essa norma
Internacional assegura a implantação das Medidas socioeducativas em todo o
Brasil, são elas: Organização das nações unidas (ONU), Regras de Beijing e as
Diretrizes de Riad, bem como, as regras previstas na Convenção sobre os
Direitos da Criança. Tais Documentos
compõem a Doutrina das Nações Unidas para a proteção dos Direitos da Infância.
Foi nas ações de arte e cidadania,
produção textual e musical que aproveitamos momentos como a conversão da
linguagem falada pela linguagem escrita. Em muitos casos aproveitamos registros
léxicos mencionados pelos sujeitos, e diante disto percebemos a amplitude dos
trabalhos pedagógicos e a necessidade de encaminhar o sujeito ao retorno escolar.
Diante disto publicamos neste blog, as cartas escritas na privação de Liberdade
Ceduc – Pitimbu[10],
estas cartas trazem registros emocionais da carência afetiva. Nela observasse a
necessidade da comunicação, a confirmação inconsciente de punição e a busca pela
família. Os detentos adultos partem para estudar Direito, essa necessidade leva
o sujeito à liberdade imaginativa ou punição internalizada, alguns adolescentes
mencionam em oficinas que vão ser advogados ou Juízes. Devemos ressaltar que
muitas vezes estas linguagens vêm converter os sistemas de signos sociais,
simbolizando o preconceito direto nas relações entre as entidades reais, isto
é, sujeito e mundo. Sobre este aspecto Vygotsky[11] menciona:
Gradualmente, esse elo intermediário
(a linguagem falada) desaparece, e a linguagem escrita converte-se num sistema
de signos que simboliza diretamente as entidades reais e as relações entre
elas.
Porém, podemos concluir que estes adolescentes
atendidos nas oficinas operativas de arte e cidadania na Liberdade Assistida,
apresentam déficits como: dificuldades de organização espacial, escrita
ininteligível[12],
grafia irregular, dificuldade de preensão, omissão, substituição de letras e
dificuldade de encadeamento de ideias e analfabetismo.
A origem dos déficits de
aprendizagens ou transtornos de aprendizagens têm diversas causas como: psicobiológico
e psicossociais. Contudo, é preciso ressaltar que muitas crianças em condições
diferentes destes, podem apesentar as mesmas dificuldades. As dificuldades de
leitura e produção textual é um dos grandes problemas das escolas públicas
brasileiras. Isto é, não criamos leitores ou hábitos de leitura, criamos
situações desinteressantes em salas de aulas.
Em alguns casos os déficits de
leitura nascem da influência de orientação; “leia com atenção e tenha certeza
que está lendo a palavra correta”. Outro ponto a ser observado é que muitas
vezes as atividades de leitura nas escolas são desestimulantes, em outras, são
textos de impossível compreensão.
A exigência sobre a norma culta, o
não dialogo dos ensinantes ou a falta de criatividade e planejamento das aulas
vêm dificultar a compreensão da escrita e leitura, causando a relutância e
visão túnel. A relutância ou a visão túnel podem ser estimuladas pelas
atividades escolares, devemos chamar isto de ação silenciosa ou violência
silenciosa. É importante termos em mente que o conhecimento e as atividades de
produção e interpretação textual devem ser conduzidos numa atmosfera sadia, sem
cobrança e sem muita ansiedade. O desenvolvimento e os interesses infantis se
ligam ao crescimento biológico geral da criança, isto é, os interesses devem
ser conduzidos como necessidades orgânicas[13]. Ao mesmo tempo devemos
observar que a falta de diálogo, o interesse e ou estímulo do ensinante leva o
sujeito ao não aprendizado.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Devemos ter em mente que as relações
sociais se tornam grandiosas não pela amplitude, mas pelo grau de diferenciação
e complexidade. A nossa história escravocrata
determina guetos e promove apartheids.
Se nas Instituições de Ensino não
conseguimos despertar curiosidades ou estruturas desejante, uma boa orientação
de leitura, escrita e produção textual. Devemos ter a certeza que a Educação
brasileira, cada vez mais irá escolher sujeitos a educar, da mesma forma sem
investimento na educação pública nunca teremos uma sociedade de leitores ou um
País longe da criminalidade. Isto é, em quanto o sistema determinar ou promover
apartheids o déficit de aprendizagem e os comportamentos desinteressantes de agressividades
serão realidades, hoje a educação vem refletir ou absorver a crise social. A agressividade
responde a todas as ações estressantes e violentas imposta pelo sistema. São provocações
dos aprendentes pela insatisfação ou a não compreensão do atual processo de
ensino e exclusão social, isto é, ligasse ao capitalismo estético e
neurotizante, a metodologia, o excesso da carga horária do docente, o não
planejamento de atividades e o mais grave, a falta de interesse profissional.
A violência social do jovem pobre
atualmente vem refletir o preconceito, da violação dos direitos, o não poder
ser e ter. Cabe ressaltar que negro e pobre não tem e nunca teve direito ou
valor humano neste país. No Brasil é mais
fácil promover punições do que investir em educação, moradia, qualidade de vida
e saúde publica.
[1]
FERNÁNDEZ. Alicia. A inteligência aprisionada. Porto Alegre: Artes médicas,
1990.
[2]
Ibidem, 1990.
[3] BARROS NETO, Manoel do Rêgo.
Violência e violação de direitos na escola pública: desafios enfrentados por
docentes e gestores. Ed. Do autor, 2012. Trabalho de intervenção socioescolar
apresentado à Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Como requisito do
Título de Licenciatura em Pedagogia.
[4]
Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. Lei nº 8.069/90, de 13 de julho de
1990. Brasília – 2007.
[5]
LAKOMY, Ana Maria. Teorias cognitivas de aprendizagem. Curitiba: IBPCX, 2003.
[6] Ibid. 1990.
[7] VIGOTSKY, Leve Semenovich. A formação
social da mente: o desenvolvimento dos processos superiores. 7ª ed. São Paulo:
Martins Fontes. 2007.
[8] FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir:
nascimento da prisão. Petrópolis, Vozes. 1987.
[9] Sistema Nacional de atendimento
Socioeducativo – SINASE.
[10]
Centro Educacional – Pitimbu. Unidade de privação de liberdade.
[12] Ininteligível: que não se pode
entender. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 3.0.
[13]
Ibidem, 2010.
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