Pular para o conteúdo principal

O BRINCAR E O DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL DO SUJEITO




                                                         MANOEL ESPERIDIÃO DO RÊGO BARROS NETO
 

            É necessário   pensar, o que é brincar? E qual seu papel no desenvolvimento cognitivo e social na vida do sujeito? Brincar seria distrair-se com jogos ou representar papeis fictícios, para Vigotsky (2007) é satisfazer um desejo, é uma curiosidade de mundo. Para ele os jogos e o brincar só dão prazer ao sujeito se for considerado um resultado interessante. É impossível ignorar certas satisfações e necessidades orgânicas e psíquicas no ato de brincar. “Se não entendermos o caráter especial dessas necessidades, não podemos entender a singularidade do brinquedo como uma forma de atividade” (VIGOTSKI. 2007. p. 108). Contudo, existem diferentes concepções a cerca do desenvolvimento humano, todas buscam responder esta ação. Hoje perguntamos: quais os caminhos e quais as possibilidades da troca de diálogos nas ações do saber?

            Diante destas observações passamos a perceber que existem alguns critérios para um bom desenvolvimento de atividades no brincar, seriam elas: possibilidades motrizes, e o nível de desenvolvimento cognitivo.  Convém ressaltar que o nível de desenvolvimento do grupo deve ser anotado e avaliado pelo mediador da oficina, seriam eles: atenção, concentração, memória, pensamento, ações inconscientes registrados em atividades, linguagem, raciocínio lógico, imaginação, criatividade, coordenação motora ampla ou fina, equilíbrio, lateralidade e ou esquema corporal. Os critérios de segurança também devem ser considerados, bem como, os espaços disponíveis para as brincadeiras e os brinquedos, estes devem ser estabelecidos por idade.

            É oportuno frisar que existe um curto período de tempo entre o desejo e sua satisfação. Temos desejos não realizáveis, estes podem ser satisfeitos ou esquecidos (fator inconsciente), contudo, quando não satisfeitos permanecem o traço e a tendência de satisfação imediata destes desejos. Os jogos e brincadeiras vêm despertar estas tendências inconscientes, para Vigotski (2007) o mundo ilusório e imaginativo despertado pelo ato de brincar traz a satisfação de desejos não realizáveis. Winnicott (2011) menciona sobre o significado do inconsciente, para ele é algo profundo e reprimido pela dor atinente à aceitação do self[1]. Este sentimento inconsciente governa os corpos dos sujeitos num momento critico. E o simples ato de colocarmos em prática a imaginação, despertamos regras, satisfações e sentimentos inconscientes. Durante a ação do brincar, passamos a considerar comportamentos significantes e significados, e as regras generalizam a realidade.  “A ação regida por regras começa a ser determinada pelas ideias e não pelos objetos” (VIGOTSKI. 2007. p.115). Porém, é extrema mente difícil para o sujeito separar o pensamento do objeto.

            Nós, defendemos a ação do brincar na reeducação infantil, este brincar vai auxiliar no desenvolvimento futuro da criança no processo de ensino/aprendizagem. A reeducação infantil vem contribuir na estruturação e na construção do sujeito social e intelectual. É no brincar que a criança vai se socializar e criar limites sociais. Vigotsky (2007) observa sobre o papel do brinquedo no nível de desenvolvimento intelectual, superior ou inferior, e dos estágios de desenvolvimento nas necessidades da criança.

Se ignorarmos as necessidades da criança e os incentivos que são eficazes para coloca-la em ação, nunca seremos capazes de entender seu avanço de um estágio do desenvolvimento para o outro, porque todo avanço está conectado com uma mudança acentuada nas motivações, tendências e incentivos. (VIGOTSKY, 2007. p. 108).

            Também vai permitir ao sujeito explorar os limites do corpo e experimentar todas as possibilidades possíveis. Mencionar a brincadeira é um despertar imaginativo e social, segundo Vigotski (2010) um comportamento imaginativo, e as fantasias não é outra coisa senão uma brincadeira inibida, reprimida e não descoberta.  Ao mesmo tempo, a brincadeira vai tornar possível ao sujeito explorar e descobrir os espaços que o acerca. Oliveira (2007) menciona que os jogos simbólicos desenvolvem nos sujeitos ferramentas para a criação da fantasia abrindo caminhos a autonomia, a criatividade e a exploração de significados e sentidos. “À medida que o brinquedo se desenvolve, observamos um movimento em direção à realização consciente de seu proposito” (VIGOTSKI. 2007. p. 123).

            Desenvolvendo pesquisa sobre vivencia de rua durante a infância, Koller (2010) investiga sobre as relações do brincar e a escola, para ela a escola não oferece uma didática lúdica às crianças, principalmente as mais velhas.  Para as crianças investigadas a escola é apenas um local de estudo, onde o brincar se desenvolve de maneira desinteressante. A citada autora menciona ainda sobre a não organização da instituição sobre o pleno desenvolvimento da criança, e o brincar distanciasse dos objetivos pedagógicos.

Historicamente e oficialmente, a escola não foi construída como um espaço para brincar. Segundo Foucault (2003), a escola é uma preparação para o trabalho, onde os processos disciplinares implicam o controle minucioso do corpo para que aconteça um bom funcionamento da instituição. Ou seja, não há espaço para brincadeira, pois a livre iniciativa das crianças é “proibida”. A escola oferece como motivação ao trabalho escolar um sistema de notas (Freitas, 1998), e a brincadeira, muitas vezes, é oferecida às crianças como um horário de folga do professor e não porque é vista como uma ação pertencente à infância ou ao desenvolvimento da mesma (SANTOS, apud, KOLLER. 2010. P. 206).

 

            Os métodos desenvolvidos pelo projeto devem mostrar que o brincar juntamente com os jogos tem diversas funções no desenvolvimento emocional e na construção de signos sociais e cognitivos do sujeito. Nosso estágio na reeducação Infantil no Nível I, nós permitiu perceber que a ação de brinca, proporciona uma inteiração nos processos pedagógicos. Cabe ressaltar que a ação de brincar não é desenvolvida em todas as escolas, seja: pública ou privada. Contudo, Santos apud Koller (2010) destaca que a escola provoca desigualdade, ao invés de oportunizar mudanças. É oportuno frizar que muitas vezes a escola refaz condições da desigualdade, não conseguindo oferecer acesso a uma educação de qualidade. “Para além dos objetivos pedagógicos a escola também deve ser um lugar de acolhimento sócio emocional propiciador de momento de prazer” (SANTOS, apud, KOLLER. 2010. P. 206).

            Contudo, o não aprendizado ou a criação de hábitos de leitura e escrita provoca sentimentos de vergonha e a exclusão social. Em oficina de Liberdade Assistida os sujeitos mencionam que não tem cabeça para a escola. Aliado a isto, encontramos um histórico de insucesso não dos educandos, mas, das instituições e seu fracasso pedagógico e relacional. Junto a estes fracassos encontramos nas crianças e adolescentes um complexo de culpa cognitiva. “minha professora disse que eu não sirvo para nada”, ou “não consigo aprender nada”[2]. “[...], crianças provindas de instituições públicas de atendimento para população carente têm projetos mais modestos, [...]” (SANTOS, apud, KOLLER. 2010. P. 206). Contudo, despertamos em alguns adolescentes durante o acompanhamento pedagógico na L.A o interesse e o retorno à escola. Porém, observávamos que o maior problema não está no sujeito, e sim na Instituição de Ensino que não desenvolve programas pedagógicos especiais de inclusão reeducativa. E na maioria das vezes não aceita o adolescente, em muitos casos devemos acionar o Conselho Tutelar. É importante prepararmos os docentes para os novos contextos de ensino e aprendizagem, este novo panorama de insegurança psicossocial vem refletir na escola pós-moderna. Contudo, a escola em todos os aspectos não conseguiu acompanhar essa pós-modernidade. Como já observamos anteriormente a violência social traz características psicossociais da pós-modernidade. Não existe uma redistribuição do saber, essa utopia do saber leva a escola e alguns profissionais da educação a um patamar de superioridade. Por exemplo: se o aluno não consegue acompanhar meu raciocínio este não serve, devo descarta-lo. Em nosso entendimento esse processo faz parte da mercantilização do ensino ou do saber. A escola continua escolhendo os alunos que quer formar, e a universidade passam a descriminar o aluno cotista, pelo simples fato de vir de escola pública. Mas, o docente da escola pública é o mesmo da escola privada, a diferença encontrasse na estabilidade do emprego e na ideia de que a maioria dos sujeitos não é capaz cognitivamente.

                                                                    REFERÊNCIAS

OLIVEIRA, Zilma Ramos de. Educação infantil: fundamentos e métodos. 3ª ed. – São Paulo: Cortez, 2007. (Coleção Docência em Formação).

MORAIS, NEIVA-SILVA, KOLLER, SANTOS. Além do Saber Ler e Escrever: a escola na vida das crianças em situação de rua. 1ª ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010, p. 199 a 211.

WINNICOTT, Donald W. A família e o desenvolvimento individual. 3ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

VIGOTSKY, L. S. O desenvolvimento da percepção e da atenção. 7ª ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 21 a 31.

VIGOTSKY, Lev Semenovich. Implicações educacionais. 7º ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 87 a 125.



[1] SELF: sentimento difuso da personalidade, atitudes e predisposições de comportamento. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 3.0.
[2] Estes relatos são mencionados em oficinas de Liberdade Assistida no Núcleo de Atividade para Medidas Socioeducativo em Meio Aberto – NAMSE. Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social – SEMTAS – Prefeitura da Cidade do Natal R/N.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Psicomotricidade e grafismo

BOSCAINI, Franco. Psicomotricidade e grafismo: da grafo motricidade à escrita. 1998 - Instituto Italiano Di cultura. Rio de Janeiro – Sete Letras.   BARROS NETO, Manoel Esperidião do Rêgo                   Segundo o autor todos os trabalhos sobre atividades gráficas, oferecem resultados parciais. E em referência apenas as produções gráficas, pode-se notar que a maior parte das produções artísticas recebem orientações psicanalíticas do desenho e da escrita. Poucos autores abordam a problemática da gestualidade, do traço, da motricidade e da estética. Contudo, os estudos sucessivos se orientam mais tarde sobre a expressividade considerando a ligação entre grafismo, gestualidade e movimento. O citado autor observa que a atividade gráfica é um meio de comunicação que se origina do corpo expressando-se através da escrita e do desenho. EXPRESSÕES HUMANAS             O homem é por natureza um ser comunicante e para esta comunicação ele utiliza-se de uma vasta gama de linguage

DIFICULDADE NA APREENDIZAGEM ESCOLAR

UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ - UVA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA   DIFICULDADE NA APRENDIZAGEM ESCOLAR, (pp. 78 a 109). GOLBERT, Clarissa Seligman; MOOJEN, Sônia Pallaoro. Dificuldade na Aprendizagem Escolar. In: SUKIENNIK, Paulo Beréi (Org.). O aluno problema: transtornos emocionais de crianças e adolescentes. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1996. Pp. 79 a 109.   BARROS NETO, Manoel Esperidião do Rêgo As dificuldades de aprendizagens são comuns durante todo o processo do compartilhamento do conhecimento, existem aprendentes que por diferentes razões seja: o nível de complexidade de conteúdos e/ou metodologia não consegue acompanhar a troca da informação dialogal em sala de aula. Tais dificuldades têm sido objeto de estudo a partir de inúmeras perspectivas ordenando elementos conceituais diversos, o conceito de problemas na aprendizagem e/ou atrasos é extenso e quase incompreensível. Martín e Marchesi [1] menci

FATORES DE INTEGRAÇÃO E DESINTEGRAÇÃO DA VIDA FAMILIAR - ( WINNICOTT, 2005. pp. 59 a 72 - Capitulo VI)

WINNICOTT, Donald W. Fatores de integração e desintegração na vida familiar . 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.                                                               BARROS NETO, Manoel Esperidião do Rêgo               O presente estudo analisa as bases familiares num contexto de integração e desintegração durante a vida familiar numa perspectiva cultural/vivencial. “O modelo pelo qual organizamos nossas famílias demonstra na prática o que é a nossa cultura, assim como uma imagem do rosto é suficiente para retratar o indivíduo [1] ”. As sessões psicanalíticas com famílias europeias no pós-guerra levaram Winnicott a estudar a natureza humana, essa natureza é vista por ele como organismos vivos e complexos, cuja existência social/cultural leva os indivíduos a tendências naturais, e segundo ele, as frustrações acarretam sofrimento.              Quando trata sobre emigrações ou transferências de indivíduos para outro Estado e/ou País examina a ação e a neces