BARROS NETO, Manoel Esperidião do Rêgo
A linguagem faz parte do
desenvolvimento da cultura e das relações pessoais, ligam-se as questões
comportamentais sócio/familiar e aos processos de ensino-aprendizagem. É um
processo que vem sendo desenvolvida desde o período gestacional dando continuidade
a toda fase do desenvolvimento emocional, social e comportamental do sujeito na
primeira e na primeiríssima infância, é por meio das palavras que o pensamento
se materializa subjetivamente. Segundo Vigotski (2010) a linguagem desempenha
algumas funções importantes como: coordenação social, e o mais importante, é um
instrumento do pensamento. Segundo o
citado autor (2010) a linguagem acontece de fora para dentro, isto é, acontece
pelo discurso interior, neste momento o sujeito incorpora o plano simbólico no
aparato psicológico unido a linguagem. E menciona que toda palavra tem imagem,
diante disto percebemos que é no processo de desenvolvimento da linguagem que a
imagem morre e a palavra conserva o sentido e o som. Para ele (2007) a
linguagem simboliza as entidades reais e as relações entre elas.
Ao pensarmos desenvolvemos uma
comunicação interna, isto é, desenvolvemos equilibração. Num simples ato de
pensar reproduzimos inteligências, as inteligências é um intercambio entre o
sujeito e meio. Contudo, para que se desenvolva o pensamento vai exigir a
coordenação de varias funções orgânicas como: memória declarativa (informação
sobre fatos), procedimental (habilidades e hábitos), semântica (memória geral),
episódica (conhecimento pessoal). Estas funções psíquicas ligam-se a evolução e
a maturação cerebral. Contudo, a complexidade da memória abrange o neurológico,
o psíquico e o cognitivo. Vigotski (2010) quando trata do conceito de
inteligência mental ele menciona que este termo deve ser substituído pelo
conceito de aptidão especial.
Devemos ressaltar que as
organizações da linguagem escrita durante as oficinas de arte e cidadania na
L.A[1], foram desenvolvidas
atividades de criação textuais ou composição de um rap, a leitura e a
interpretação de mundo do sujeito devem estar inseridas no planejamento de oficinas.
Este desenvolvimento textual pode ser associado às atividades diversas. Por
exemplo, a criação de imagens como desenhos (ilustração pedagógica) ou criação
de formas geométricas como o jogo do Tangram ou mosaico geométrico. É licito
supor que, a singularidade do sujeito é definida por fatos históricos, isto é,
a relação do homem com o mundo não é uma relação direta é mediada por
instrumentos e signos. Os sujeitos observados e acompanhados durante as oficinas
não obedecem a normas sociais ao mesmo tempo não compreendem signos sociais. Os
signos sociais são formas posteriores da mediação e da natureza semiótica entre
o sujeito e o objeto de conhecimento de forma simbólica é uma representação
mental.
Para direcionarmos os planejamentos das
oficinas pedagógicas de arte e cidadania, necessitamos buscar uma compreensão sobre
a Escola Epistemológica. Essa Escola estuda as duas polaridades do processo
cognitivo e o emocional, junto ao sujeito e o objeto de conhecimento. Ao mesmo
tempo buscamos a sociogenia para compreendermos as relações interpessoais
vivenciadas pelos grupos durante as oficinas. Necessitávamos conhecer as
relações históricas, culturais e as formas que definiriam o funcionamento psicológico
e a linguagem utilizada por pelos sujeitos.
Cabe ressaltar que, o conceito de adolescência
é um conceito cultural, não devemos comparar um adolescente com outro, isto é,
os limites, as possibilidades, as particularidades de cada um. As particularidades
são definidas pelos fatores históricos, vivenciais e emocionais. Neste pensamento
poderíamos incluir as possibilidades de aprendizagens ou os déficits. É
importante refletir sobre a organização da linguagem escrita como um todo, este
processo está ligado diretamente ao desenvolvimento da psicomotricidade.
A linguagem definida pelo grupo também está
associada aos signos pigmentados na pele do sujeito, estes signos vêm
simbolizar suas entidades reais nas relações sociais. As tatuagens pigmentadas
na pele dos adolescentes definem as imagens ações e as imagens espetaculares,
isto é, muitas vezes são registros hierárquicos na posição social. Isto é, são formas
inconscientes de afirmação social ou um reflexo das imagens e dores
inconscientes. Algumas imagens ligasse a desintegração de outros valores já
constituídos, é importante mencionar que este é um processo interno e doloroso.
Desta forma iniciamos este tópico com a seguinte pergunta. O que é linguagem? E
como se desenvolve a inteligência do sujeito?
O ato de comunicar verbalmente está
relacionado a diversos fatores de desenvolvimento emocional e coordenação
social, essa desenvolução começa durante o período gestacional. Neste caso
vamos descrever alguns fatores de desenvolvimento da linguagem: o psicomotor[2], o cognitivo, os fatores
sociocultural, afetivo-emocionais e os fatores relacionais. O contato visceral da criança com sua mãe são
fundamentais para o desenvolvimento do sujeito social e intelectual. A intenção
dos pais em comunicar-se com os filhos em intensões emocionais quotidianas
criam condições emocionais de desenvolvimento normal como: vínculos afetivos, o
encorajamento a curiosidade autônoma, e o brincar controla o mundo circundante.
Contudo, é necessário ressaltar que
existem outros elementos que podem interferir no desenvolvimento da linguagem e
no estado de equilibração, são os transtornos nas aprendizagens da lacto escrita
e os transtornos do desenvolvimento e evolução da linguagem ou poderemos chamar
de transtornos de comunicação. Estes transtornos estão vinculados a fatores
psicológicos. Seriam eles; atraso na fala (neste caso a atividade linguística
não se encontra dentro de parâmetros normais), o atraso de linguagem (consiste num atraso homogêneo no surgimento da
linguagem), semântica (o vocabulário é reduzido a objetos do entorno social), afonia
histérica (perda da voz por choque afetivo, bloqueio por estresse ou medo de
falar), disfemia (deterioração da fluidez verbal caracterizada por repetições
do elemento da fala, sílaba, sons, palavras, etc.) e a dislexia (distúrbio de
leitura quase sempre acompanhado com a aquisição da linguagem escrita).
Este conhecimento sobre o
desenvolvimento da linguagem ao mediador da oficina vem permitir a compreensão
da construção da inteligência, isto é, a equilibração. Lakomy (2003) menciona os estudos
desenvolvidos por Piaget sobre a construção da inteligência da criança.
[...] a criança constrói sua
inteligência em um intercambio constante com o meio, com o objetivo de uma
constante equilibração – uma melhor adaptação ao meio. Assim, quando uma
criança se encontra em uma situação nova, instala-se um estado de equilíbrio. A
criança, então, procura novos esquemas ou formas para lidar com isso (que
envolve uma crescente transformação das suas ações) e, assim, adaptar-se e
voltar a um novo estado de equilíbrio (LAKOMY apud PIAGET. 2003. P. 28).
A ação de sugar o
leite materno é um exercício reflexivo do recém-nascido, este exercício
transforma-se em um dos primeiros esquemas da reflexão funcional da ação, isto
é, o ato de sugar é um processo do estado de equilibração. Segundo Lakomy
(2003) a representação funcional, isto é, a ação de sorver do lactente, é a
primeira condição do ato de troca da criança ao meio. “Dessa maneira, o
indivíduo em contato com o meio, perturba-se e se desequilibra” (LAKOMY. 2003.
p. 29).
Para equilibrar-se ou adaptar-se a
esse meio ele constrói esquemas de ação que levam à produção de novos conhecimentos
complexos. Lakomy (2003) menciona sobre o método da equilibração majorante
desenvolvido por Piaget. Esse processo de
equilibração desempenha um papel importante no desenvolvimento cognitivo e
social do sujeito. E envolve dois mecanismos intermediários, a assimilação e a
acomodação. Ela explica que a assimilação é a incorporação de novos
conhecimento ou um conjunto de conhecimentos reunidos à estrutura intelectual
do sujeito. A acomodação ocorre quando o sujeito reorganiza sua estrutura
mental para assim incorporar novos conhecimentos.
Se buscarmos o estágio das operações
concretas (de 07 a 13 anos), isto é, a superação do egocentrismo. Vamos
perceber que neste estágio o adolescente busca compreender o pensamento do
outro. “[...], procura transmitir seu próprio pensamento, de modo que este seja
aceito pelos que o rodeiam, apesar de começar a perceber suas próprias
contradições” (LAKOMY. 2003. p. 33). Nesta fase se instala a comprovação
empírica das elevações mentais.
Já no estágio operatório-formal (13
anos em diante) apresentado por Piaget, mostra que o adolescente passa ter um
raciocínio lógico. Lakomy (2003) observa, é nesta fase do desenvolvimento que o
conteúdo do pensamento do adolescente é incompatível com a realidade. Os
estudos desenvolvidos pelo citado pesquisador mostram o desenvolvimento do
pensamento neste estágio critico e social. Este é baseado em quatro analises e
seriam elas: análise da combinação, da correlação, da inversão e da reciprocidade.
É nestas ações reflexivas sobre o pensamento do adolescente que ele vem
complementar a construção dos mecanismos cognitivo-relacionais. Nesse caso este
mecanismo, continua a ser desenvolvido ao longo de sua vida. Contudo, para este
desenvolvimento acontecer vão depender da estimulação, sujeito e o meio. Cabe
ressaltar que o processo de ensino-aprendizagem é desenvolvido e estimulado
pelo meio, e pelos fatores familiares, sociais e culturais. “O professor é um agente mediador entre o
aluno e a sociedade e o aluno, por sua vez, é um agente ativo na construção do
seu conhecimento por meio da sua interação com o mundo físico e social”
(LAKOMY. 2003. p. 33).
Diante desta realidade apresentada
por Lakomy, passamos a perceber que os fatores sócios e familiares vêm
contribuir neste processo de ensino/aprendizagem. Contudo, percebemos que as
operações centrais da inteligência, isto é, classificar ou ordenar não serão
bastante, devemos buscar também os aspectos emocionais e vivenciais durante a fase de aprendizagem escolar. Durante as
oficinas observamos os desenvolvimentos reais e proximais, promovendo assim uma
intervenção pedagógica, seu desenvolvimento cognitivo e emocional. É pertinente
mencionar que buscávamos sempre o retorno do sujeito à escola.
Com base nos resultados apresentados
em oficinas tentamos compreender a capacidade cognitiva dos sujeitos. Contudo,
para isto ocorrer os sujeitos devem sentir-se pertencentes ao grupo, devem
sentir-se únicos e distintos. Em função destes dados era de primordial importância
conhecer as realidades sócias familiares dos sujeitos, conhecer os fatores
históricos e relacionais. É licito supor que os desajustes emocionais podem
sugerir uma dificuldade de aprendizagem, como por exemplo: linguagem, leitura e
escrita. E estes fatores estabelecem relações recíprocas como os desajustes sociais.
Existem crianças que apresentam bloqueios totais em relação à lacto escrita[3].
A lacto escrita representa forma de crescimento
e de maturidade, os sujeitos que apresentam esta disfunção demonstram uma
resistência a este crescimento. E os sujeitos respondem emocionalmente a
diversas situações de vida como, por exemplo: problemas familiares,
superproteção, negação, morte de pessoas próximas, violência e agressividade. Desta
forma devemos estar atentos a estes casos, mesmo porque estes sujeitos vão
responder sobre todos estes aspectos durante todo o processo de
ensino/aprendizagem. Porém, o mais importante é conceder ao sujeito possibilidades
de ser, colocando sempre como sujeito capaz de pensar e refletir sobre seu aprendizado.
É necessário termos a compreensão do desenvolvimento
psicossocial, psicobiológico, para entender o processo de desenvolvimento sócio
escolar. Diante disto menciona Zabala:
[...], ter um conhecimento
rigoroso de nossa tarefa implica saber identificar os fatores que incidem no
crescimento dos alunos. O segundo passo consistirá em aceitar ou não o papel
que podemos ter neste crescimento e avaliar se nossa intervenção é coerente com
a ideia que temos da função da escola e, portanto, de nossa função social como
educadores (ZABALA. 1998. p. 29).
Durante o nosso trabalho com
adolescentes autores de atos infracionais percebemos que o processo de ensino-aprendizagem,
linguagem, relação social é uma ação social continuada, podem interferir na
vida escolar dos sujeitos. E este processo tem um caráter ativo e faz parte da
construção pessoal de cada um, os problemas de aprendizagens vão ser levados
durante toda a vida. Como já havíamos percebido antes, a linguagem, o
pensamento e o desenvolvimento social andam juntos, isto é, a comunicação
relacional não está ausente do sujeito, pensamos e existimos socialmente.
Quando pensamos ou
expressamos pensamentos (falar só), expomos nossa dificuldade de compreensão
cognitiva, e ou organizamos nossos pensamentos. Dessa maneira o pensamento
passa a revelar nossa natureza social e ao mesmo tempo nossa dificuldade de
compreensão. Segundo Vigotski (2010) nossa personalidade é organizada pelo
mesmo modelo de organização e convívio social. Assim passamos perceber que
existe uma desintegração interna e inconsciente do sujeito em seu dado natural de se comunicar e
socializar seus pensamentos, não importando como essa comunicação se dê.
REFERÊNCIAS
ZABALA, A. A função social do ensino e a concepção sobre os processos de
aprendizagem: instrumentos de análise. Porto Alegre: Artmed, 1998. P. 27 a
52.
VIGOTSKY, L. S. O desenvolvimento da percepção e da atenção. 7ª ed. – São Paulo:
Martins Fontes, 2007, p. 21 a 31.
----------------, Psicologia pedagógica. 3ª Ed. – São Paulo : Editora WMF. Martins
Fontes, 2010.
LAKOMY, Ana Maria. Teorias cognitivas da aprendizagem.
Curitiba: IBPCX, 2003.
[1]
Liberdade Assistida – Núcleo de Atividades para Medidas Socioeducativas em Meio
Aberto – NAMSE. Natal RN.
[2] Próprio ou referente a qualquer
resposta que envolva aspectos motores e psíquicos, tais como movimentos corporais
governados pela mente (DICIONÁRIO ELETRÔNICO HOUAIS DA LÍNGUA PORTUGUÊSA 3.0).
[3]
Habilidade de leitura e escrita (DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM, detecção e
estratégia de ajuda. Edição MMIX).
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