BARROS NETO, Manoel Esperidião do Rêgo
Nas oficinas pedagógicas de arte e
cidadania e criação textual, na Liberdade Assistida, foram desenvolvidas
algumas atividades de leitura e produção textual. Estes momentos foram
aproveitados com atividades geométricas com o tangram, desenhos ilustrativos e
composição musical. É necessário mencionarmos que o desenho e a escrita andam
juntos.
Faz-se necessário mencionar que os textos
e as composições artísticas desenvolvidos na Liberdade Assistida foram buscados
a reconstrução de mundos vividos pelos adolescentes. Já os textos lidos para
discussões, foram selecionados de acordo com os signos sociais da linguagem
relacional apresentada pelo grupo de trabalhado. Os textos visavam à reflexão
pedagógica social do mundo vivido pelos adolescentes e a percepção dos signos
sociais. Textos de jornais, revistas e reflexivos,
tinham o objetivo de levantar diálogos desafiadores do “eu social”.
É necessário perceber que a
reorganização e a estimulação pedagógica devem passar pela experiência dos
sujeitos, desde que as escolhas dos objetos trabalhados facilitem a compreensão
do “eu/social”. Vygotsky (2007) menciona que linguagem escrita é uma construção
de signos que designam do som de palavras da linguagem falada, isto é, são
signos relacionais a entidades reais.
As características e a realidade
apresentada e analisada durante as oficinas pedagógicas de arte e cidadania
possibilitou-nos a compreensão de que, os sistemas relacionais de signos
sociais apresentados pelos adolescentes são complexos e mecânicos, do mesmo
modo é a função de seu desenvolvimento comportamental. Estes sujeitos em
cumprimento de Medida Socioeducativa em Meio Aberto, não conseguiram terminar o
ensino fundamental I. Contudo, percebe-se que sua compreensão de leitura,
interpretação, e déficit cognitivos causado pelo não acesso ou exclusão escolar
e ou uso de substâncias psicoativas deixa o trabalho da produção textual
completamente comprometida. Porém, não compromete o desenvolvimento criativo,
muito pelo contrario a vivência de violência e violação de direitos deixa
transparecer ações emocionais/ criativas. Assim durante as oficinas de criações
textuais houve a intervenção dos mediadores da oficina, junto a estas
intervenções existiu a experiência e a dedicação dos profissionais. Devemos
considerar e levar em conta a complexidade do pensamento e o mundo exterior,
bem como, o aspecto interior do seu comportamento.
É necessário mencionar que as
oficinas tinham objetivo de trabalhar os signos sociais, o retorno escolar e a
reparação do dano causado pelos adolescentes. O presente trabalho teria à ação
do retorno escolar interrompida por vários motivos, um deles é a não aceitação
da escola a este sujeito, o outro é o ambiente sem perspectiva social. Todos
estes fatos são observados e compreendidos durante as oficinas pedagógicas na
Liberdade Assistida. Foram nas ações de arte e cidadania e produção textual que
aproveitamos momentos como a conversão da linguagem falada pela linguagem
escrita. Estas linguagens vêm converter os sistemas de signos sociais,
simbolizando o preconceito direto nas relações entre as entidades reais, isto
é, sujeito e mundo. Sobre este aspecto Vygotsky menciona:
Gradualmente, esse elo intermediário
(a linguagem falada) desaparece, e a linguagem escrita converte-se num sistema
de signos que simboliza diretamente as entidades reais e as relações entre
elas. Parece claro que o domínio de tal sistema complexo de signos não pode ser
alcançado de maneira puramente mecânica e extrema; em vez disso esse domínio é
o culminar, na criança, de um longo processo de desenvolvimento de funções comportamentais
complexas (VIGOTSKI. 2007. p. 126).
Porém, podemos concluir que estes adolescentes
atendidos nas oficinas pedagógicas de arte e cidadania na Liberdade Assistida,
apresentam déficits como: dificuldades de organização espacial, escrita ininteligível[1], grafia irregular,
dificuldade de preensão, omissão, substituição de letras e dificuldade de
encadeamento de ideias, muitos são silábico alético ou pré-silábicos; 90% não
estão na escola ou não passaram pela educação infantil. Convém observar que as
origens dos déficits de aprendizagens ou agressividade envolvem diversas causas
como: psicobiológico e psicossociais. Contudo, é preciso ressaltar que muitas
crianças em condições diferentes destes, podem apesentar as mesmas dificuldades
ou os mesmos comportamentos agressivos.
As dificuldades de leitura e
produção textual é um dos grandes problemas nas escolas brasileiras. Há de se
considerar que não criamos leitores ou hábitos de leitura, criamos situações
desinteressantes em salas de aulas. Em alguns casos os déficits de leitura
nascem da influencia de orientação; “leia com atenção e tenha certeza que está
lendo a palavra correta”. Outro ponto a ser observado é que muitas vezes as
atividades de leitura nas escolas são desestimulantes, em outras vezes, são
textos de impossível compreensão. A exigência sobre a norma culta e o estudo da
gramática dificulta a compreensão da escrita e leitura causando relutância e
visão túnel.
A relutância ou a visão túnel podem
ser causadas pelas atividades escolares, devemos chamar de ação silenciosa ou
violência silenciosa. É importante termos em mente que o conhecimento e as
atividades de produção e interpretação textual deveriam ser conduzidos numa
atmosfera sadia e sem muita ansiedade. Vygotsky (2010) menciona sobre o
desenvolvimento e os interesses infantis, estes se ligam ao crescimento
biológico geral da criança, isto é, os interesses devem ser conduzidos como
necessidades orgânicas.
Contudo, devemos ter em mente que as
relações sociais se tornam grandiosas não pela amplitude, mas, pelo grau de
diferenciação e complexidade das relações sociais. Se nas Instituições de Ensino
não conseguimos despertar curiosidades ou uma boa orientação de leitura e
produção textual teremos cada vez mais uma sociedade formada por sujeitos não
leitores.
REFERÊNCIAS
VIGOTSKY, L. S. O desenvolvimento da percepção e da atenção. 7ª ed. – São Paulo:
Martins Fontes, 2007, p. 21 a 31.
----------------, Psicologia pedagógica. 3ª Ed. – São Paulo : Editora WMF. Martins
Fontes, 2010.
VIGOTSKY, Lev Semenovich. Implicações
educacionais. 7º ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 87 a 125.
[1] Ininteligível: que não se pode
entender. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 3.0.
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